Folha de S. Paulo


Obama incentiva mudança em Cuba e afirma que Guerra Fria acabou

Nicholas Kamm/AFP
US President Barack Obama delivers a speech at the Gran Teatro de la Habana in Havana on March 22, 2016. During his address to Cubans Obama said he has come to Cuba to 'bury last remnant' of Cold War. AFP PHOTO / Nicholas KAMM ORG XMIT: NKA050
Barack Obama durante discurso para o povo cubano, em um teatro de Havana

Em um dos momentos mais esperados de sua visita a Cuba, o presidente dos EUA, Barack Obama, dirigiu-se nesta terça (22) à população da ilha, num discurso televisionado repleto de frases em espanhol, gestos amistosos e cobranças por mudanças no país.

Obama defendeu a democracia, encorajou o país a abrir sua economia, mas admitiu erros cometidos pelos EUA nas últimas décadas, assegurando que seu país não é uma ameaça a Cuba.

No palco do imponente Teatro Alicia Alonso, no centro antigo de Havana, o presidente comparou EUA e Cuba a irmãos separados por muitos anos, "apesar de compartilharem o mesmo sangue".

O discurso sintetizou a mensagem que Obama buscou transmitir em sua histórica visita, de que a reaproximação é um caminho sem volta, mas que os EUA continuarão a promover as liberdades fundamentais na ilha sem interferir em sua soberania.

Nesse esforço para convencer os cubanos de que o intervencionismo é passado, Obama admitiu que a política americana não funcionou, voltou a defender o fim do embargo ao país e exortou o ditador Raúl Castro, presente no teatro, a não temer críticas.

"Precisamos ter coragem para reconhecer essa verdade. Uma política de isolamento criada para a Guerra Fria fazia pouco sentido no século 21. O embargo apenas prejudicava o povo cubano, em vez de ajudá-lo", afirmou, antes de citar o líder dos direitos civis americano Martin Luther King Jr.: "Não devemos ter medo da mudança, devemos abraçá-la".

TEATRO LOTADO

No teatro lotado, a maior parte era de cubanos, mas também havia centenas de convidados de Washington, entre eles a enorme delegação de empresários, políticos e ativistas que acompanhou Obama na visita.

"Vim para enterrar os restos da Guerra Fria nas Américas", disse, sob aplausos. "Vim para estender a mão da amizade ao povo cubano."

A visita de Obama, a primeira de um presidente americano a Cuba desde 1928, coroa o processo de reaproximação entre os dois países iniciado no fim de 2014, que colocou fim a 53 anos de rompimento diplomático.

Obama ressaltou os passos positivos dados desde então e prometeu mais medidas para facilitar os negócios para promover prosperidade na ilha.

Sem rodeios, exortou a ditadura comunista a acelerar a abertura econômica, permitindo o surgimento de mais "cuentapropistas" —empreendedores que romperam com o domínio estatal, trabalhando por conta própria.

"Ser autônomo não é ser mais como os EUA, é ser mais como você mesmo", afirmou, reiterando a importância de ampliar o acesso à internet, ainda bastante restrito na ilha, e não hesitando em desafiar o regime autocrático de Cuba. "Eleitores devem poder escolher seus governos em eleições livres e democráticas."

Ovacionado após o discurso de meia hora, Obama decepcionou alguns dos cubanos presentes ao não mencionar planos de desocupar a base militar americana de Guantánamo, situada numa área no sul da ilha. Assim que terminou o discurso, o sistema de som tocou a canção "Guantanamera".

Apesar da mensagem amistosa, o presidente não venceu a desconfiança de muitos dos convidados. "Ele diz que cabe aos cubanos decidir o futuro de Cuba; a questão é a que cubanos se refere, os trabalhadores, estudantes e camponeses ou os mercenários pagos para criticar o regime", disse o estudante de física Vicente Díaz, 21.

O discurso abriu o último dia de visita de Obama a Cuba, que também se reuniu com 13 representantes da sociedade civil e dissidentes de Cuba, os quais elogiou por sua coragem. Um deles, o opositor Elizardo Sánchez, contou que a polícia montou guarda na porta de sua casa e ele só pôde comparecer ao encontro porque diplomatas americanos foram buscá-lo.

"Cuba nos trata como se não fôssemos seres humanos", disse. A principal mensagem de Obama foi atingida: transmitir seu apoio a nós e aos direitos humanos."


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