Em um dos momentos mais esperados de sua visita a Cuba, o presidente dos EUA, Barack Obama, dirigiu-se nesta terça (22) à população da ilha, num discurso televisionado repleto de frases em espanhol, gestos amistosos e cobranças por mudanças no país.
Obama defendeu a democracia, encorajou o país a abrir sua economia, mas admitiu erros cometidos pelos EUA nas últimas décadas, assegurando que seu país não é uma ameaça a Cuba.
No palco do imponente Teatro Alicia Alonso, no centro antigo de Havana, o presidente comparou EUA e Cuba a irmãos separados por muitos anos, "apesar de compartilharem o mesmo sangue".
O discurso sintetizou a mensagem que Obama buscou transmitir em sua histórica visita, de que a reaproximação é um caminho sem volta, mas que os EUA continuarão a promover as liberdades fundamentais na ilha sem interferir em sua soberania.
Nesse esforço para convencer os cubanos de que o intervencionismo é passado, Obama admitiu que a política americana não funcionou, voltou a defender o fim do embargo ao país e exortou o ditador Raúl Castro, presente no teatro, a não temer críticas.
"Precisamos ter coragem para reconhecer essa verdade. Uma política de isolamento criada para a Guerra Fria fazia pouco sentido no século 21. O embargo apenas prejudicava o povo cubano, em vez de ajudá-lo", afirmou, antes de citar o líder dos direitos civis americano Martin Luther King Jr.: "Não devemos ter medo da mudança, devemos abraçá-la".
TEATRO LOTADO
No teatro lotado, a maior parte era de cubanos, mas também havia centenas de convidados de Washington, entre eles a enorme delegação de empresários, políticos e ativistas que acompanhou Obama na visita.
"Vim para enterrar os restos da Guerra Fria nas Américas", disse, sob aplausos. "Vim para estender a mão da amizade ao povo cubano."
A visita de Obama, a primeira de um presidente americano a Cuba desde 1928, coroa o processo de reaproximação entre os dois países iniciado no fim de 2014, que colocou fim a 53 anos de rompimento diplomático.
Obama ressaltou os passos positivos dados desde então e prometeu mais medidas para facilitar os negócios para promover prosperidade na ilha.
Sem rodeios, exortou a ditadura comunista a acelerar a abertura econômica, permitindo o surgimento de mais "cuentapropistas" —empreendedores que romperam com o domínio estatal, trabalhando por conta própria.
"Ser autônomo não é ser mais como os EUA, é ser mais como você mesmo", afirmou, reiterando a importância de ampliar o acesso à internet, ainda bastante restrito na ilha, e não hesitando em desafiar o regime autocrático de Cuba. "Eleitores devem poder escolher seus governos em eleições livres e democráticas."
Ovacionado após o discurso de meia hora, Obama decepcionou alguns dos cubanos presentes ao não mencionar planos de desocupar a base militar americana de Guantánamo, situada numa área no sul da ilha. Assim que terminou o discurso, o sistema de som tocou a canção "Guantanamera".
Apesar da mensagem amistosa, o presidente não venceu a desconfiança de muitos dos convidados. "Ele diz que cabe aos cubanos decidir o futuro de Cuba; a questão é a que cubanos se refere, os trabalhadores, estudantes e camponeses ou os mercenários pagos para criticar o regime", disse o estudante de física Vicente Díaz, 21.
O discurso abriu o último dia de visita de Obama a Cuba, que também se reuniu com 13 representantes da sociedade civil e dissidentes de Cuba, os quais elogiou por sua coragem. Um deles, o opositor Elizardo Sánchez, contou que a polícia montou guarda na porta de sua casa e ele só pôde comparecer ao encontro porque diplomatas americanos foram buscá-lo.
"Cuba nos trata como se não fôssemos seres humanos", disse. A principal mensagem de Obama foi atingida: transmitir seu apoio a nós e aos direitos humanos."