Folha de S. Paulo


Cartunista espera que reaproximação com EUA leve humor a Cuba

Enquanto a grande maioria dos cubanos espera melhorias econômicas com a reaproximação com os Estados Unidos, o cartunista Jorge Félix tem um desejo bem específico: que o regime deixe de ser mal-humorado.

Especializado em charges políticas, o artista cubano não tem espaço para publicar seus trabalhos em um país pouco tolerante a críticas ao governo.

"Espero que a visita de Obama simbolize uma abertura nessa mentalidade. Sei que o presidente é um cara bem-humorado", diz Félix.

Conhecido pelo nome artístico de Urgelle's, ele ganha a vida fazendo caricaturas em Havana Velha, a parte mais turística da capital cubana, mas sonha em poder publicar suas obras políticas.

Algumas ele carrega na bolsa e não hesita em mostrá-las em meio ao movimento do Parque Central, no coração de Havana.

Uma delas mostra "balseros", os imigrantes que se arriscam no mar para chegar aos EUA, navegando numa bandeira cubana.

Com a colaboração de Obama, o regime cubano buscou mostrar uma face mais leve na véspera da visita, autorizando uma conversa por telefone do presidente com Pánfilo, o mais famoso comediante do país. Félix conta que Pánfilo tem algum espaço para críticas, mas que elas são leves e inofensivas.

"Um palhaço na TV não faz muita diferença. Mas um cartum político pode ser poderoso. Lembre-se, uma imagem vale mil palavras", diz, sem o receio geralmente demonstrado pelos cubanos em falar de política com estranhos.

Um senhor de cabelos brancos e todo vestido de preto, passa caminhando lentamente e Félix aponta. "Aquele ali é um agente de segurança do regime. Meu velho conhecido."

Félix diz que já foi questionado pelo regime por seus trabalhos políticos, mas mantém a cautela para não se meter em encrencas mais sérias.

O humor político não desapareceu totalmente de Cuba após a vitória da Revolução Comunista, em 1959. Mas ele sempre ficou do lado do governo, e humor a favor não é bem humor, diz Félix.

O regime chegou a ter um cartunista oficial, René de la Nuez, morto no ano passado. Durante anos ele publicou seus desenhos no jornal estatal "Granma". O tema era quase sempre críticas ao imperialismo e exaltação da revolução.

Mas De la Nuez perdeu o seu status de voz humorística do regime ao fazer um desenho debochado de José Martí, herói da independência cubana. "Martí aparecia sendo barrado num shopping center", ri Félix. "Mas o governo não achou graça."

Obama em Cuba


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