Folha de S. Paulo


Obama e Raúl admitem falhas de direitos humanos em Cuba

O presidente dos EUA, Barack Obama, e o ditador de Cuba, Raúl Castro, abordaram nesta segunda-feira (21) o embargo econômico e as questões de direitos humanos e liberdades fundamentais em Cuba, mas prometeram que, apesar das diferenças, continuarão seguindo adiante na construção de um novo caminho entre os dois países.

No segundo dia de sua viagem histórica a Cuba, o líder americano conseguiu fazer com que Raúl aceitasse ser questionado por repórteres, algo incomum na ilha comunista, onde a mídia é amplamente controlada.

Durante entrevista coletiva concedida após um encontro bilateral no Palácio da Revolução, o ditador cubano admitiu haver falhas de direitos humanos em Cuba, mas fez a ressalva de que isso não é um problema que se restringe à ilha.

"Alguns países cumprem algumas coisas, outros cumprem outras. De 61 instrumentos de direitos humanos, cumprimos 47. A questão de direitos humanos não deve ser politizada", afirmou ao lado de Obama.

Raúl disse também que Cuba se opõe "à manipulação política e à abordagem de dois pesos e duas medidas na questão dos direitos humanos" —a China, também criticada pela forma como lida com os direitos humanos, usou recentemente a mesma expressão ao falar dos EUA.

Questionado por jornalistas norte-americanos sobre a repressão do regime, Raúl demonstrou irritação, negando que haja presos políticos no país.

"Não vou permitir isso. Me dê a lista agora mesmo dos presos políticos para soltá-los. Mencione agora. Que presos políticos?", rebateu.

Obama reconheceu haver "diferenças muitos sérias" entre os dois governos, particularmente em questões como direitos humanos, mas disse acreditar que é possível manter um "diálogo construtivo".

O líder americano também reiterou que seu país continuará defendendo a democracia e as liberdades fundamentais em todos os países por acreditar que são "princípios universais". Mas disse que os EUA não pretendem ditar aos cubanos como devem governar seu país.

"O destino de Cuba não será decidido pelos EUA ou qualquer outro país", disse Obama. "O futuro de Cuba será decidido pelos cubanos e ninguém mais."

EMBARGO

Raúl voltou a exortar os EUA a suspenderem o embargo econômico a seu país, em vigor desde 1962.

Afirmou que as medidas tomadas pelo governo Obama desde a retomada das relações para amenizar as sanções "são positivas, mas não suficientes". Também pediu o fechamento da base militar norte-americana de Guantánamo, situada no sudeste da ilha.

"O bloqueio é o maior obstáculo para nosso desenvolvimento econômico e sua eliminação é essencial para normalizar as relações bilaterais", disse Raúl, pedindo que os norte-americanos "aceitem e respeitem as diferenças" entre os dois países.

"Destruir uma ponte é fácil, mas reconstruí-la solidamente é uma tarefa longa e difícil."

Obama já se mostrou favorável ao fim do embargo várias vezes, mas a suspensão só pode ocorrer por decisão do Congresso norte-americano, que é controlado pela oposição republicana.

"O embargo vai acabar. Quando? Não posso ter certeza absoluta, mas acredito que acabará", disse Obama, cujo mandato termina no início de 2017. "O caminho que estamos trilhando continuará além do meu governo."

O líder americano também afirmou que o fim do bloqueio "dependerá de quão rapidamente conseguiremos convergir em nossas diferenças, como direitos humanos, por exemplo".

O presidente americano agradeceu pela forma como foi recebido pelo povo cubano e fez uma brincadeira sobre as filhas, Sasha e Malia, que acompanharam a comitiva oficial. "Elas nunca querem fazer as coisas conosco [os pais], mas para Cuba quiseram vir."

A propósito da sucessão de Obama, um repórter norte-americano questionou Raúl se ele preferia a democrata Hillary Clinton ou o republicano Donald Trump, que lideram a corrida presidencial. "Não posso votar nos Estados Unidos", esquivou-se o ditador cubano, com um sorriso.

A visita de Obama é a primeira de um presidente norte-americano a Cuba desde 1928, e coroa o processo de reaproximação entre os dois países iniciada no fim de 2014, que encerrou 53 anos de rompimento diplomático.

Obama em Cuba


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