Folha de S. Paulo


Obama e Raúl Castro se reúnem no Palácio da Revolução, em Havana

Com um aperto de mão, o ditador Raúl Castro recebeu o presidente Barack Obama, na manhã desta segunda-feira (21), para um encontro no Palácio da Revolução, em Havana.

O cubano recepcionou o mandatário americano após Obama ter visitado o memorial de José Martí, localizado na Praça da Revolução, e prestado homenagem ao herói da independência cubana. Antes de se sentarem para conversar, Obama e Castro ouviram uma banda militar tocar o hino dos dois países.

É a primeira visita de um presidente americano à ilha em 88 anos. Castro e Obama já se reuniram outras três vezes no passado.

Após o encontro, são aguardadas conferências de imprensa dos dois líderes. No entanto, ainda não foi divulgado se eles falarão lado a lado ou em eventos separados.

Mais tarde, ainda nesta segunda (21), Obama participará de um evento com empresários e empreendedores cubanos e americanos.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, cerca de 400 mil cubanos hoje trabalham no setor privado na ilha, como funcionários ou empresários. Entre eles, estão donos de restaurantes, técnicos de reparo de celulares, vendedores de frutas, cabeleireiros e motoristas de táxi.

Também a primeira-dama americana, Michelle Obama, teve eventos marcados para esta segunda (21). Ela se encontrou com estudantes do ensino médio, dentro do projeto "Let Girls Learn", lançado pela Presidência americana em 2015.

O jornal estatal cubano "Granma" publicou em sua página no Twitter uma foto da mensagem deixada por Obama no livro de visitas do memorial de José Martí. Nela se lê: "É uma grande honra pagar tributo a José Martí, que deu sua vida pela independência de sua nação. Sua paixão pelos direitos, pela liberdade e pela auto-determinação vivem ainda hoje no povo cubano."

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O jornalista do "The Guardian" Dan Roberts também publicou na rede social fotografias das primeiras páginas de alguns dos principais jornais cubanos nesta segunda (21).

De acordo com o "Granma", "Obama chegou a um país que defende as bandeiras da paz, da solidariedade internacional e da resistência ante as adversidades que teve que enfrentar; um povo orgulhoso de sua história e de suas raízes, que defende sua identidade nacional e luta por um futuro melhor com todos e para o bem de todos".

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O jornal "Trabajadores" também destacou a visita, dizendo que "apesar das tensões vividas pelos dois países durante mais de cinco décadas, todos concordam que essa é uma visita importante para o futuro processo de normalização de relações entre os Estados (...), que ainda enfrenta obstáculos na persistência do bloqueio econômico, financeiro e comercial imposto à ilha".

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"ESTA É A HORA"

"Esta é a hora", disse Obama durante uma entrevista ao canal de TV americano ABC, na noite de domingo (20), sobre a reaproximação dos Estados Unidos com Cuba. "Obviamente, nossa intenção sempre foi avançar, sabendo que a mudança não aconteceria da noite para o dia", afirmou o presidente.

"Ainda que tenhamos diferenças significativas em relação aos direitos humanos e liberdades individuais dentro de Cuba, sentimos que vir agora iria maximizar nossa habilidade de promover mais mudanças."

"Parte do que precisamos fazer é dar fim ao embargo. Isso pode não acontecer durante o meu mandato, que já está no fim, mas é algo inevitável."

Horas antes da chegada da comitiva americana, dezenas de ativistas da oposição ligados ao grupo Damas de Branco foram detidos pela polícia, após confronto com manifestantes pró-governo. Alguns já foram liberados, segundo a agência France Presse. Entre eles, a presidente da Damas de Branco, Berta Soler.

Durante a entrevista na noite de domingo, Obama também revelou que o Google, empresa norte-americana, planeja atuar na ilha para melhorar o acesso da população à internet, instalando novos pontos de wi-fi e de rede banda-larga.

Desde que chegou ao poder, Raúl Castro orquestrou importantes reformas sociais e políticas na ilha, ainda que sua materialização tenha se mostrado lenta. Ele passou, por exemplo, a permitir que cubanos abrissem seus próprios negócios e também diminuiu as restrições ao uso de celulares e internet.

No entanto, Castro se recusa a rever o sistema político cubano de partido único ou a censura à imprensa, demandas do governo americano.

AGENDA

Na terça (22), último dia da viagem, o presidente americano deverá fazer um discurso televisionado ao povo cubano a partir do Gran Teatro Alicia Alonso, antes de assistir a um jogo de beisebol entre a equipe americana Tampa Bay Rays e a seleção cubana.

Logo depois, Obama e família embarcam para a Argentina, onde se encontrarão com o presidente Maurício Macri.

Obama em Cuba


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