Folha de S. Paulo


Cubano que vive na Flórida espera fim da ditadura para voltar à ilha

Com 78 anos bem navegados, o marinheiro cubano Orlando Felix Mena não vê um dos cinco filhos há duas décadas. Há quatro não visita a casa onde nasceu, em Santiago de Cuba. E não o fará, a menos que Fidel e Raúl Castro deixem o poder.

Mena mora em Hialeah (Flórida), a cidade mais cubana fora de ilha, onde 95% da população é de origem latina. Nunca aprendeu uma palavra em inglês e detesta a política e os políticos. Com uma exceção: Barack Obama.

"É um homem que tem o que poucos homens têm, uma sensibilidade rara", observa Mena. "Tenho admiração e respeito por ele."

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O cubano Orlando Felix Mena, 78, em Hialeah, Florida, espera a reabertura para voltar a ilha. Foto:Thais Bilenky/Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O cubano Orlando Felix Mena, 78, que mora em Hialeah, Flórida

O esforço do presidente americano em retomar relações com a ilha comunista, reaproximação que chega ao clímax neste domingo (20) com sua visita ao país, é positivo, na opinião do cubano.

"Espero que consiga trazer avanços para os de dentro e para os de fora. As pessoas que gostam de seu país lamentam a situação."

No entanto, Mena é cético. "Não se sabe [o impacto que a visita terá], porque os americanos ainda falam mal de Cuba, e o governo não devolveu a base de Guantánamo. É um território de Cuba, não pertence aos americanos."

Da mesma forma que os americanos tomaram algo que não lhes pertence, compara Mena, os Castro se apropriaram de Cuba. "Eles não são donos dos cubanos."

O interesse por política para por aí. O marinheiro "ouviu falar" que filhos de cubanos se candidataram a presidente dos EUA, os senadores Ted Cruz (Texas) e Marco Rubio (Flórida), que já desistiu.

"Se digo que gosto da ideia, minto. Se digo que não gosto, minto. Ser neutro é uma coisa muito bonita."

CAVALHEIRO

Para ir ao oculista e voltar para casa, na última terça (15), quando conversou com a reportagem, Mena vestiu terno, gravata e chapéu.

É hábito da vida inteira estar sempre bem apresentado, conta.

Galanteador, abre a porta para as mulheres, não se furta a admirá-las na rua e é um disputado frequentador de bailes de conga. Diz que sai no braço se vê um homem desrespeitar uma mulher. "Não se pode tocar uma dama nem com uma rosa."

Separou-se da mãe de seus filhos, a quem conheceu ainda na cidade natal, porque era ciumenta demais, na versão dele, e hoje se dedica a fazer doces. Vive com um filho e é chamado carinhosamente de "papi" pelos netos.

ONDE FICAM HIALEAH E SANTIAGO DE CUBA

Mas nunca superou a separação dos primos e amigos que não conseguiram sair de Cuba.

Com a falta de comunicação entre os dois países, Mena nunca soube a data precisa em que a mãe morreu.

Sua família era numerosa e muito conservadora. O avô foi capitão, e o pai, "doutor". Viviam bem, mas ele não tolerou ver conterrâneos passarem fome. Esperou os filhos terem idade suficiente, pôs todos em um navio rumo ao Canadá. Meses depois, se instalariam em Hialeah.

Sua expectativa é conhecer os netos e bisnetos que estão em Cuba. Mesmo com toda a distância, ele diz não guardar tristeza. "Enquanto há vida, há esperança."


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