Folha de S. Paulo


Obama se reunirá com dissidentes em viagem a Cuba, dizem opositores

Dissidentes cubanos foram convidados para uma reunião com Barack Obama durante sua histórica viagem a Havana, segundo opositores do governo cubano informaram à agência de notícias AFP.

"Fui convidada para essa reunião", disse Berta Soler, líder das Damas de Branco (grupo dissidente).

O encontro está marcado para a terça-feira (22).

Alexandre Meneghini - 10.dez.2015/Reuters
Dissidente do
Dissidente do Damas de Branco é detida após protesto no Dia Internacional dos Direitos Humanos

Soler se recusou a participar de encontro similar, realizado em agosto do ano passado, com o secretário de Estado norte-americano. John Kerry, que viajou a Cuba para a reabertura da embaixada dos EUA país.

Obama chegará a Cuba no domingo (20) e ficará até a tarde de terça (22), marcando o processo de reconciliação entre os países depois de meio século de separação.

"Nunca mencionaram diretamente uma reunião com o presidente Obama mas se supõe que ela ocorra, porque mencionaram uma reunião de grande importância, e se supõe que ela seja com o presidente Obama", disse Manuel Cuesta Morúa, dissidente moderado.

A Casa Branca confirmou, nesta quarta-feira (16), o encontro de Obama com "representantes da sociedade civil" cubana, mas sem mencionar diretamente os opositores.

José Daniel Ferrer, líder da União Patriótica de Cuba (Unpacu), disse que foi convidado para "um encontro de grande importância" na terça (22), assim como Guillermo Fariñas, vencedor em 2010 do Prêmio Sajarov (homenagem ao defensores dos direitos humanos e das liberdades), e a opositora Miriam Leiva.

Adalberto Roque-27.fev.13/AFP
Guillermo Fariñas e José Daniel Ferrer, opositores ao regime castrista, em coletiva de imprensa em Havana
Guillermo Fariñas e José Daniel Ferrer, opositores ao regime castrista, em coletiva de imprensa em Havana

Em carta de 10 de março às Damas de Branco, Obama se comprometeu a discutir "diretamente" com Raúl Castro sobre "os obstáculos" para o exercício dos direitos humanos.

"Entendo perfeitamente os obstáculos que os cubanos mais simples enfrentam para exercer seus direitos. Os EUA creem que ninguém, em Cuba ou em qualquer outra parte do mundo, deve enfrentar ameaças, prisões ou agressões físicas simplesmente por exercer o direito universal de terem suas vozes escutadas", escreveu Obama.

As Damas de Branco, grupo criado em 2003 por esposas de presos políticos (já libertos), é ilegal em Cuba, e as ativistas denunciam com frequência prisões temporárias e ações da polícia para impedir a mobilização.

Cuba nega ter presos políticos e diz que, por terem cometidos violações, os dissidentes tinha sido detidos.

Ben Rhodes, assessor de Obama e um dos primeiros negociadores na reaproximação entre os países, antecipou dias atrás que Obama se reuniria com um grupo de dissidentes.

DISSIDENTES

A dias de receber a histórica visita de Barack Obama, Cuba liberou a viagem de quatro dissidentes aos EUA. Após terem sido soltos em 2014 eles teriam sido presos novamente, segundo opositores.

Os dissidentes Niorvis Rivera, Aracelio Riviaux, Vladimir Morera e Jorge Ramírez "foram soltos da prisão na terça-feira (15) e levados ao Combinado do Leste (em Havana), onde fizeram os trâmites migratórios e viajaram no mesmo dia para os Estados Unidos", disse o opositor José Daniel Ferrer à agência de notícias AFP.

Anthony Behar-29.set.16/Xinhua
O ditador cubano, Raúl Castro, e o presidente dos EUA, Barack Obama, na sede da ONU, em setembro
O ditador cubano, Raúl Castro, e o presidente dos EUA, Barack Obama, na sede da ONU, em setembro

Ferrer, um dos dissidentes cubanos convidados a participar de reunião com Obama na próxima terça (22), apontou que "a igreja católica cubana serviu como mediadora" nessas solturas, que qualificou como "um presente para Obama", e destacou que um quinto dissidente, Yohannes Arce, aguardava nesta quinta (17) em Havana para viajar aos EUA.

"Este é um presente, uma gentileza moralmente controversa, para o presidente norte-americano. O regime cubano sente que os prisioneiros políticos são sua melhor arma para negociar", apontou Ferrer.

Ele completou que "como Niorvis não queria sair de Cuba sem sua família, prometeram-lhe que seus familiares também viajariam daqui a 10 a 15 dias, então ele aceitou ir aos EUA".

Os quatro dissidentes liberados são parte de um grupo de 53 presos que foi solto em dezembro de 2014, quando Havana e Washington retomaram suas relações diplomáticas.

Um ano depois os dissidentes foram presos novamente.

Vladier, filho de Morera, que fez uma greve de fome por mais de 80 dias no ano passado, disse que seu pai "está bem e contente, mesmo que ainda sofra com as sequelas" de seu prolongado jejum.

"Até o último minuto ele não acreditava que seria liberado para viajar, mas agora está lá, feliz e ansioso para que sua família o encontre", completou Vladier.

LIBERAÇÃO DOS PORTOS

Os EUA removeram, nesta quinta (17), a ilha da lista de países considerados sem segurança suficiente em seus portos, eliminando importante impedimento para transações econômicas entre os países. A mudança é mais um passo na normalização das relações entre Washington e Havana.

A alteração possibilita que cruzeiros, navios de carga e balsas viajem entre os países com menos dificuldade. Não será preciso que todos os navios sejam revistados pela guarda costeira norte-americana, mas ela ainda poderá realizar inspeções quando quiser.

A guarda costeira disse que Cuba agora tem medidas efetivas de segurança em seus portos, o que também elimina a acusação de que as embarcações dos EUA exigem maior nível de segurança quando estão em portos cubanos.


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