Folha de S. Paulo


Cidade alemã vira símbolo de acolhida de refugiados com apoio de moradores

Até então uma pacata cidade de menos de 25 mil habitantes no Estado alemão de Baden-Württemberg (sudoeste), Ellwangen começou a ficar conhecida no país por ter se disposto a receber até 1.000 refugiados no fim de 2014, quando ainda era relativamente pequeno o fluxo vindo do Oriente Médio pela Europa balcânica até chegar à Alemanha.

Meses depois, em abril de 2015, um abrigo estadual para sírios, principalmente, foi aberto no município, e imagens de moradores recebendo os refugiados na estação de trem ganharam o mundo.

Stefan Puchner - 28.jan.2016/AFP
Policial alemão tira impressões digitais de refugiado no centro de recepção de Ellwangen, na Alemanha
Policial alemão tira impressões digitais de refugiado no centro de recepção de Ellwangen, na Alemanha

Quase um ano depois, Ellwangen teve altos e baixos na relação com os novos habitantes, mas a população se habituou à nova realidade, diz à Folha o secretário de Cultura e Turismo da cidade, Anselm Grupp.

"Imagine, no começo, um local como Ellwangen receber um centro de abrigo do tamanho do LEA (sigla da instituição em alemão). Chamava a atenção. Mas o engajamento de voluntários foi fundamental para os refugiados terem uma boa acolhida."

Onde fica Ellwangen

Ellwangen sofreu, porém, o reflexo do aumento exponencial de fugitivos cruzando a fronteira alemã ao sul. Dos 1.000 iniciais e planejados, o LEA chegou a ter 4.700 refugiados em setembro do ano passado, o equivalente a quase 20% da população da cidade.

A superlotação levou a brigas entre os abrigados, descontentes com as condições de acomodação, já que o local não suportava tanta gente. "A situação dentro do LEA era tudo menos boa", conta Grupp.

Além disso, os moradores alemães passaram a se queixar do aumento de roubos na cidade, nos quais muitas vezes refugiados estavam envolvidos. O policiamento local teve de ser reforçado.

A situação chegou ao auge de tensão em outubro do ano passado, quando um refugiado sírio de 53 anos foi atingido na cabeça por um disparo de uma arma de pressão no meio da praça central de Ellwangen, em um crime aparentemente sem motivação xenófoba —o suspeito seria um atirador em série, que já tinha cometido um crime semelhante na cidade contra vítimas alemãs.

O sírio ficou apenas ferido, o que ajudou a não agravar a relação entre Ellwangen e o abrigo.

O governo de Baden-Württemberg agiu e realocou em outras cidades os abrigados em excesso. Hoje, o LEA de Ellwangen tem "apenas" 1.200 moradores, que ficam de quatro a seis semanas, pois o abrigo é considerado de "primeira acolhida" —depois, eles são transferidos para outras hospedagens.

"No momento, como um todo, podemos falar em uma situação tranquila", afirma o secretário Grupp.

Ellwangen teve a chance de dar indiretamente sua opinião a respeito da política migratória da chanceler Angela Merkel neste domingo (13), durante as eleições para o Parlamento de Baden-Württemberg, vistas como um termômetro sobre essa questão.

Segundo os resultados preliminares, o desempenho do partido antirrefugiados AfD (Alternativa para a Alemanha, na sigla em alemão) em Ellwangen foi ligeiramente pior que em todo o Estado: 13,9% dos habitantes da cidade votaram no AfD, enquanto em Baden-Württemberg o índice chegou a 15,1%.


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