Folha de S. Paulo


Nova geração de latinos muda perfil político da Flórida

Emilio Fonseca, 24, nasceu em Nova Jersey, mas passou a infância na Nicarágua de seus pais. A família se instalou em Miami em sua pré-adolescência, 12 anos atrás. Agora ele faz mestrado em relações internacionais.

O estudante não sabe se "segue o coração e vota no [presidenciável democrata] Bernie Sanders ou se obedece à razão e apoia [a rival] Hillary Clinton". "Minha única certeza é que votarei em um democrata em novembro."

Joe Raedle/Getty Images/AFP
KENDALL, FL - MARCH 09: Supporters of Democratic presidential candidate Senator Bernie Sanders (D-VT) show their support for him before his debate against Democratic presidential candidate Hillary Clinton at the Univision News and Washington Post Democratic Presidential Primary Debate on the Miami Dade College's Kendall Campus on March 9, 2016 in Kendall, Florida. Voters in Florida will go to the polls March 15th for the state's primary. Joe Raedle/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
Jovens latinas fazem campanha pelo democrata Bernie Sanders, de esquerda, na Flórida

Os pais de Emilio, que interromperam a formação depois de se graduarem, viraram democratas quando o republicano George W. Bush os decepcionou na Presidência.
Emilio diz que "só pode falar por sua família", mas sua história ilustra um fenômeno geracional, a "esquerdização" da Flórida.

O Estado com a terceira maior concentração de latinos dos EUA (após Califórnia e Texas) deixa sua inclinação conservadora à medida que filhos de imigrantes crescem, estudam e passam a votar.

Os jovens latinos são o grupo que se expande mais rapidamente entre o potencial eleitorado americano, segundo o centro de pesquisas Pew.

LATINOS NOS EUA - Latinos que podem votar, em milhões

Eles já respondem por quase a metade do total de hispânicos nos EUA, tendem a votar em candidatos progressistas e são, em geral, mais escolarizados que seus pais. (E, curiosamente, falam com sotaque latino, apesar de terem o inglês como língua nativa.)

Isso explica a mudança em curso no cenário político do Estado após a eleição do democrata Barack Obama, em 2008. Naquele ano, invertendo a lógica então em vigor, mais latinos se registraram como democratas do que como republicanos, apontou o instituto Pew, e, desde então, a diferença só fez aumentar.

Há, contudo, dois complicadores. O primeiro é a tendência, geral entre jovens de qualquer grupo mas mais aguda entre latinos, de não comparecer às urnas.

Entre os hispânicos, o Pew estima que metade dos potenciais eleitores de 18 a 29 anos não votou na última eleição.

O segundo complicador é ele, Donald Trump.

Potencial eleitorado latino - Em %

CUBANOS

A Flórida é um dos Estados decisivos nas eleições presidenciais americanas devido ao comportamento imprevisível do eleitorado, que pode optar por ambos os partidos.

O país está de olho no que acontecerá nesta terça (15), quando a Flórida realizará uma das seis prévias do dia.

O senador republicano Marco Rubio, filho de cubanos nascido em Miami, será pressionado a deixar a corrida se não ganhar em casa. As pesquisas o põem em segundo lugar, bem atrás de Trump.

A ascendência cubana tampouco impulsionou, na Flórida, a pré-candidatura do senador superconservador Ted Cruz (Texas), cujo pai fugiu da ilha em 1957.

O eleitorado cubano não apenas tem perdido espaço para portorriquenhos e outros grupos latinos como também tem deixado para trás o ressentimento que o impelia para o Partido Republicano.

"Os mais novos não têm o mesmo amargor de seus pais e mal se lembram de Fidel Castro", observa o professor Lance DeHaven-Smith, da Universidade da Flórida. "O Estado está se tornando democrata."

Contudo, a polarização que divide os americanos em todo o país se replica aqui. Em simulações da eleição geral, Hillary e Trump estão tecnicamente empatados.

Onde fica Flórida

O apelo "antiestablishment" do republicano, sua personalidade midiática e a promessa de empregos ressoam entre os latinos locais.

"Os cidadãos hispânicos não querem que os imigrantes sem documentos venham para cá competir com eles por trabalho", observa Smith. "Nem todos querem leis imigratórias liberais."

Impopular entre os jovens, Hillary precisará correr atrás de eleitores como Alejandro Puga, 18, para ganhar a Flórida. Filho de venezuelano, o estudante mal decorou o nome dos outros pré-candidatos e já está fazendo campanha para Trump.

Nesta semana, ele foi erguer cartazes a favor do empresário diante do local onde os democratas debatiam. "Não éramos muitos, mas fizemos a nossa parte", sorri.


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