Folha de S. Paulo


Acordo UE-Turquia é exemplo claro de cinismo, diz Médicos Sem Fronteiras

"Os líderes europeus perderam completamente a noção da realidade, e o acordo atualmente em negociação entre a União Europeia e a Turquia é um dos exemplos mais claros de seu cinismo."

A ONG internacional Médicos Sem Fronteiras usou um tom duro para se referir ao projeto de acordo sobre migrantes que a União Europeia e a Turquia começaram a desenhar nesta segunda-feira (7), em Bruxelas.

O rascunho do acordo prevê reenviar à Turquia todos os migrantes apanhados no mar Egeu –que separa a Turquia da Europa– ou que já chegaram à Grécia mas ainda não fizeram pedido de asilo no país.

Ye Pingfan - 7.mar.2016/Xinhua
 BRUSELAS, marzo 7, 2016 (Xinhua) -- El primer minsitro turco Ahmet Davutoglu (i), el presidente del Consejo Europeo Donald Tusk (c) y el presidente de la Comisión Europea Jean-Claude Juncker (d) interactúan luego de una conferencia de prensa conjunta al término de la cumbre entre la Unión Europea (UE) y Turquía, en la sede del Consejo Europeo, en Bruselas, Bélgica, el 7 de marzo de 2016. La Unión Europea (UE) y Turquía discutieron el lunes nuevas propuestas para abordar la crisis migratoria que está poniendo en peligro la política libre de pasaportes del bloque europeo. (Xinhua/Ye Pingfan) (vf) (sp)
O premiê turco Ahmet Davutoglu (esq.) o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk (centro),e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, após a reunião em Bruxelas

Em troca, a UE aceitaria milhares de refugiados sírios, levando-os à Europa por caminhos seguros, sem que precisem fazer travessias em barcos perigosos e sem ficar à mercê de traficantes.

Para cada migrante que for apanhado no mar Egeu, a UE se comprometerá a receber um refugiado de acampamentos turcos.

"Este cálculo bruto reduz as pessoas a meros números, negando-lhes um tratamento humano e descartando o seu direito de buscar proteção", afirma o comunicado emitido nesta terça-feira (8) pela MSF.

A nota da MSF cita a cidade grega de Idomeni, na fronteira com a Macedônia, onde cerca de 13 mil migrantes estão bloqueados, sem poder avançar, após o fechamento da fronteira do lado macedônio e a adoção de medidas restritivas por vários países dos Bálcãs contra a entrada de viajantes.

Stoyan Nenov/Reuters
 boy carries a bottle of water as he walks through mud waiting to cross the Greek-Macedonian border, at a makeshift camp for migrants near the village of Idomeni, Greece March 8, 2016. REUTERS/Stoyan Nenov ORG XMIT: STN100
Menino anda sobre lama em campo de refugiados improvisado em Idomeni, na Grécia

"Em Idomeni, onde nossas equipes vêm substituindo as responsabilidades europeias por quase um ano, vemos as consequências desses cálculos irrealistas e desumanos sobre a vida e a saúde das pessoas. Essas pessoas não são números, mas mulheres, crianças, famílias, 88% das quais fogem de países produtores de refugiados."

A organização afirma que a Europa, "claramente, está disposta a fazer qualquer coisa, inclusive comprometendo direitos humanos fundamentais e princípios de direito dos refugiados, para conter o fluxo de refugiados e migrantes".

Ao fim do comunicado, a ONG insta os líderes europeus a providenciarem a "única resposta realista e humana [para a crise de migração]: uma passagem legal e segura, assistência humanitária e proteção aos necessitados".

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) também se manifestou sobre o acordo nesta terça e se mostrou preocupado com "o envio indiscriminado de pessoas de um país para outro, sem levar em conta as garantias de proteção aos refugiados previstas no direito internacional".


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