Folha de S. Paulo


Fechamento da rota migratória dos Bálcãs é 'especulação', diz Alemanha

Em mais um sinal de divisão entre países da União Europeia sobre como lidar com a crise de refugiados, Christiane Wirtz, porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, disse ser "especulação" o fechamento da rota migratória dos Bálcãs.

A informação consta de um rascunho do documento a ser apresentado ao fim da cúpula extraordinária do bloco sobre refugiados, nesta segunda-feira (7), em Bruxelas.

A declaração da porta-voz causa incômodo, porque o presidente francês, François Hollande, fez questão de reiterar esse ponto durante rápida conversa com jornalistas, antes da reunião oficial com os líderes europeus.

John Thys/AFP/Pool
Chancellor Angela Merkel (L) shakes hands with Greek Prime Minister Alexis Tsipras (R) during a European Union leaders' summit with Turkey on the migrants crisis at the European Council in Brussels, on March 7, 2016. EU leaders held a summit with Turkey's prime minister on March 7 in order to back closing the Balkans migrant route and urge Ankara to accept deportations of large numbers of economic migrants from overstretched Greece. The European Union is hardening its stance in a bid to defuse the worst refugee crisis since World War II by increasingly putting the onus on Turkey and EU member Greece in return for aid. / AFP / POOL / JOHN THYS ORG XMIT: BELGIUM-EU-SUMMIT-TURKY
A chanceler Angela Merkel e o premiê grego, Alexis Tsipras, se cumprimentam em Bruxelas

"A rota está fechada", disse Hollande. "Com isso a Grécia terá de lidar com a maior parte dos refugiados, e para isso teremos de ajudar os gregos."

Merkel, porém, seguiu por outra linha.

Ela afirmou que o objetivo do encontro não era "diminuir o número de refugiados em apenas alguns países, mas sim em todos, inclusive na Grécia". "Não se trata de dizer que algo será fechado."

Na visão alemã, falar em fechamento dessa rota não é algo ainda factível, pois ainda há caminhos pelos quais os refugiados conseguem passar até chegar aos países da Europa central.

O presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, ficou ao lado de Merkel. "Essa cúpula não é para fechar portas", disse. "Espero que possamos encontrar soluções razoáveis e humanitárias."

Na última sexta-feira (4), Merkel foi a Paris justamente com a intenção de sintonizar o discurso com Hollande para a cúpula desta segunda.

Ao fim do encontro, ambos disseram que concordavam em buscar manter a livre circulação de pessoas na UE, prevista pelo Espaço Schengen, e o líder francês afirmou que a França tinha o "mesmo espírito" da Alemanha.

CRÍTICO

A rota dos Bálcãs é hoje o tema mais crítico para a Europa, especialmente na fronteira entre Grécia e Macedônia, onde pelo menos 10 mil refugiados estão retidos do lado grego em condição precária após o fechamento da passagem pelo governo macedônio.

Outro ponto já divulgado no rascunho do documento final é a previsão de um acordo de deportação de migrantes "sem necessidade de proteção internacional" da Grécia para a Turquia.

Não está claro como esse critério será avaliado. Pelo texto, já há um entendimento entre Atenas e Ancara e, a partir de 1º de junho, haveria um acordo entre a Turquia e a UE.

A Turquia não integra a UE, mas é parte crucial do problema por ser a rota principal dos sírios que atravessam a fronteira, cruzam o território turco e de lá seguem de barco rumo à Europa. Há cerca de 2,5 milhões de refugiados em acampamentos turcos.

No ano passado, a UE registrou a cifra recorde de 1,25 milhão de pedidos de asilo, dos quais quase um terço foram feitos por sírios.


Endereço da página: