Folha de S. Paulo


Escândalos atingem de governo Bachelet à oposição no Chile

O caso de corrupção no Chile que derrubou a aprovação do governo de Michelle Bachelet nos últimos 12 meses não foi suficiente para fortalecer a oposição do país, também envolta em escândalos de financiamento ilegal de campanhas.

Em fevereiro do ano passado, surgiram denúncias de que a nora e o filho de Bachelet haviam lucrado milhões com a compra e a venda de terrenos adquiridos com um empréstimo concedido por um banqueiro próximo ao governo.

À época, Bachelet afirmou que o banco fez todas as análises técnicas antes de conceder o crédito e que o assunto estava na Justiça.

Mas, desde então, a parcela da população que diz se identificar com o governo caiu de 45% para 35%.

Do outro lado, os que afirmam simpatizar com a oposição passaram de 25% para 31% ""em um patamar ainda inferior ao da situação.

O índice de aprovação do governo de centro-esquerda de Michelle Bachelet não ultrapassa os 30% há 12 meses.

Para brasileiros, que estão acostumados com indicadores inferiores (o do governo Dilma Rousseff chegou a 11% em fevereiro desde ano), pode parecer que a chilena tem uma boa avaliação, o que não é a realidade.

Enquanto, no Brasil, números ao redor de 40% podem ser considerados bons, no Chile, os patamares costumam ser mais altos, chegando a 80%, explica Miguel Ángel López, professor da Universidade do Chile e doutor em ciência política.

DENÚNCIAS

Desde que foram divulgadas as primeiras informações sobre o envolvimento de sua nora e de seu filho em escândalos, Bachelet não pôde mais respirar tranquila.

Em maio, rumores apontaram o envolvimento do ministro do Interior, Rodrigo Peñailillo, em um esquema de doação ilegal a campanhas eleitorais. Para amenizar a situação, a dirigente pediu que cinco de seus 23 ministros abandonassem o governo.

Agora, no mês passado, enquanto Bachelet tirava férias, o administrador do La Moneda (o Palácio do Planalto chileno), Cristián Riquelme, deixou o cargo após denúncias de que fechara contratos entre o Estado e suas empresas.

Riquelme já havia sido apontado como responsável por deletar arquivos do computador do filho de Bachelet.

OPOSIÇÃO FRACA

"Mesmo com esse cenário, a oposição não conseguiu capitalizar a deterioração do governo", afirma Rolando Álvarez, especialista em partidos políticos e professor da Universidade de Santiago do Chile.

A diretora da empresa Mori, Marta Lagos, especializada em opinião pública, é mais direta: "Não há oposição no país hoje. Ela está muito destruída. Tem partido pensando em mudar de nome para tentar sobreviver".
Lagos se refere ao UDI, de direita.

No ano passado, um escândalo de corrupção derrubou o presidente do partido, Ernesto Silva.

Nesse caso, o grupo Penta, um dos maiores conglomerados empresariais do país, foi investigado por ter feito doações ilegais para campanhas de políticos de vários partidos, a maioria filiada à UDI.

O deputado do Partido Socialista Osvaldo Andrade, que foi ministro do Trabalho entre 2006 e 2008, durante o primeiro mandato de Bachelet, reconhece que os escândalos deterioraram a democracia do país, além de prejudicarem a imagem da mandatária.

Para ele, a situação está melhorando conforme os casos são julgados. "A nora de Bachelet não pode sair do país. Isso mostra que a Justiça não está privilegiando ninguém."

Andrade diz, no entanto, que a queda de popularidade do governo se deve principalmente às reformas estruturais que estão sendo feitas.

"As reformas tributária, educacional e trabalhista são complexas e mexem com os interesses de vários grupos da sociedade", afirma o político, que presidiu o Partido Socialista até 2015.

CONSEQUÊNCIAS

O principal resultado dos escândalos até agora é uma decepção política geral, diz López.

"Na forma tradicional da democracia, quando alguém não está de acordo com o governo, costuma apoiar a oposição. Mas isso não tem ocorrido aqui."

Os chilenos estão desiludidos porque descobriram que não são "excepcionais" na comparação com os outros países da América Latina, afirma Álvarez.

"Aqui sempre se acreditou que havia menos violência e corrupção. Agora é possível ver que podemos ser tão corruptos como os outros."

Em um ranking elaborado pelo movimento Transparência Internacional, o Chile ainda é, ao lado do Uruguai, o país menos corrupto da América Latina.

Ele aparece em 21 lugar de um total de 175 países. O Brasil fica em 69.


Endereço da página:

Links no texto: