Folha de S. Paulo


No Congresso, Macri anuncia reformas e critica 'herança Kirchner'

O presidente argentino, Mauricio Macri, abriu nesta terça-feira (1) as sessões do Congresso com anúncio de reformas nas áreas de Justiça e educação e pedidos de apoio por parte do Legislativo para algumas de suas primeiras medidas.

Entre elas está o acordo com credores externos, os chamados "fundos abutres", para o qual será necessária a derrubada de duas leis aprovadas durante a gestão Cristina Kirchner (2007-2015).

Juan Mabromata/AFP
Argentine President Mauricio Macri (L) gestures next to Argentina's Vice President Gabriela Michetti during the inauguration of the 134th period of ordinary sessions at the Congress in Buenos Aires, Argentina on March 1, 2016. AFP PHOTO / JUAN MABROMATA ORG XMIT: MAB185
Mauricio Macri e a vice-presidente da Argentina, Gabriela Michetti, no Congresso

Macri, que tomou posse em dezembro, também pediu que o Congresso, de maioria peronista, aprove a polêmica nomeação por decreto que fez de dois juízes da Corte Suprema, no final do ano passado.

Em sessão que durou cerca de uma hora, Macri foi aplaudido de pé por seus apoiadores, mas vaiado por manifestantes que estavam do lado de fora.

Deputados e militantes kirchneristas levaram à sessão cartazes referindo-se às demissões no setor público e à desvalorização de 35% do peso argentino, provocada pelo fim da política de cerco ao dólar.

Apesar do clima tenso, houve momentos de descontração, como quando o presidente confundiu-se com as folhas do discurso e repetiu duas vezes o mesmo trecho.

"Isso você já disse", gritaram da bancada kirchnerista. Macri pediu desculpas sorrindo e respondeu: "Desculpem, mas obrigada pelo aviso. Assim é que gostaria que façamos as coisas, todos juntos".

HERANÇA KIRCHNER

Mais de um terço de sua fala, porém, foi dedicada a criticar o kirchnerismo. Disse que encontrou o país desorganizado e sem informações claras sobre distintas áreas.

"O Estado mentiu sistematicamente, confundindo todos e apagando a linha divisória entre realidade e fantasia."

Macri culpou o governo anterior pelo aumento dos casos de corrupção, pela ineficiência de um Estado "que cresceu, mas não melhorou a vida dos argentinos" e pela inflação, que vem aumentando.

Uma de suas principais preocupações, a inflação estimada em mais de 30%, é culpa do governo anterior, segundo o presidente.

"A inflação existe porque se usou o Banco Central para financiar os gastos públicos." Entre as medidas anunciadas, Macri disse que reduzirá a emissão de moeda.

"O governo anterior acreditava que a inflação era uma ferramenta de política econômica. Sempre estivemos contra esse olhar. A inflação é perversa."

E complementou dizendo que o kirchnerismo também é responsável pela "delicada situação fiscal" em que encontrou o país e pelo esvaziamento das reservas.

Macri afirmou também que planos sociais existentes, como uma ajuda de custo por filho, serão mantidos, além de serem criados novos programas.

Acrescentou que vai apresentar um projeto de lei para eliminar o imposto de produtos da cesta alimentar básica.

Com relação às reformas no Judiciário, pediu rapidez ao Congresso para aprovar o novo código penal e a Lei do Arrependido (parecida com a da delação premiada, no Brasil).

Disse, também, que são prioritárias as investigações sobre a morte do promotor Alberto Nisman, em 2015, e a explosão da entidade judaica Amia (Associação Mutual Israelita), em 1994.

Na área educativa, Macri prometeu criar o Instituto de Avaliação da Qualidade Educativa, além de um sistema de hierarquização dos professores da rede pública.


Endereço da página:

Links no texto: