Folha de S. Paulo


PIB da Venezuela recua 5,7% e inflação bate 180% em 2015, diz governo

Um dia após o presidente Nicolás Maduro anunciar controversas medidas para tentar reverter a crise na Venezuela, o Banco Central do país divulgou nesta quinta-feira (18) que 2015 fechou com retração econômica de 5,7% e inflação de 180,9%.

Em 2014, o PIB já havia recuado 3,9%, e a inflação atingiu 68,5%, segundo dados oficiais.

Os indicadores são os piores entre países da América Latina e traduzem a dura realidade cotidiana dos venezuelanos, que também sofrem com escassez generalizada de itens básicos e remédios.

Miguel Gutierrez/Efe
CAR01. CARACAS (VENEZUELA), 17/02/2016.- Vehículos en cola para abastecerse de gasolina vistos hoy, miércoles 17 de febrero de 2016, en una estación de Petróleos de Venezuela (PDV) en Caracas (Venezuela). El presidente de Venezuela, Nicolás Maduro, anunció hoy un aumento del precio de la gasolina de 95 octanos en el país, la más barata del mundo, de más de un 6.000 por ciento, mientas que la de 91 octanos se incrementará un 1.282 por ciento. EFE/MIGUEL GUTIERREZ ORG XMIT: CAR01
Carros fazem fila para abastecer em posto de gasolina de Caracas nesta quarta (17)

Pressionado pela crise, iniciada em 2013, e pela atual degringolada do preço do petróleo, virtual única fonte de divisas do país, Maduro anunciou nesta quarta-feira (17) um pacote econômico que pretende aliviar o rombo nos cofres públicos.

Pela primeira vez desde 1996, subsídios bilionários que fazem da gasolina venezuelana a mais barata do mundo serão aliviados, e o preço aumentará.

A partir desta sexta-feira (19), um litro de gasolina comum subirá de atuais 0,070 bolívares por litro a 1 bolívar/litro, uma elevação de 1.328,5%. A aditivada salta de 0,097 bolívares para 6 bolívares/litro, em alta de 6.085%.

Mexer no preço da gasolina é um tema sensível na Venezuela já que, em 1989, protestos contra um aumento haviam deflagrado uma onda de protestos, mortes e saques conhecida como "Caracazo."

Desta vez, porém, os venezuelanos parecem ter aceitado a alta do preço, que continuará irrisório para padrões internacionais. Na cotação paralela usada por particulares (US$ 1/1000 bolívares), encher o tanque continuará custando menos de US$ 1. O único sinal visível do aumento iminente eram filas nos postos para aproveitar as últimas horas de preço antigo.

Maduro também anunciou uma desvalorização da cotação oficial com a qual o governo subsidia importações de alimentos e remédios. Um dólar passa a valer 10 bolívares, contra 6,3 até então.

Nova taxa flutuante, cujos beneficiários não foram determinados, começará cotada em 202 bolívares/dólar.

O salário mínimo passou de 9.649 bolívares para 11.578 bolívares (US$ 11,50, pelo câmbio paralelo).

Maduro também disse que o sistema de mercados estatais, que mais concentram desabastecimento e corrupção, será reformulado. Detalhes não estão claros.

As medidas foram amplamente criticadas por serem consideradas tardias e insuficientes. O presidente da Assembleia Nacional, o opositor Henry Ramos Allup, disse que o país só sairá da crise com ajuda externa. "O governo prefere que as pessoas morram de fome a reconhecer seus erros", afirmou.

A Fedecámaras, maior entidade empresarial do país, disse que Maduro erra ao ignorar a urgência de incentivar o setor privado. Dois economistas consultados pela Folha preveem que os preços continuarão explodindo.

"A desvalorização cambial, o aumento da gasolina e do salário prenunciam mais pressão inflacionária", afirmou Anabella Abadi. Já Victor Olivo afirma que nenhuma das medidas será suficiente para aliviar as dívidas interna e externa. "É como receitar chá de camomila a quem tem câncer."


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