Folha de S. Paulo


Obama promete abordar direitos humanos em viagem histórica a Cuba

Behar Anthony - 29.set.2015/Efe
O ditador cubano, Raúl Castro, e o presidente dos EUA, Barack Obama, na sede da ONU em 2015
O ditador cubano, Raúl Castro, e o presidente dos EUA, Barack Obama, na sede da ONU em 2015

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, informou nesta quinta (18) que fará uma visita histórica a Cuba, em esforço para selar a reaproximação com a ilha em seu último ano de governo.

Na viagem, prevista para os dias 21 e 22 de março, Obama se encontrará com o chefe de Estado cubano, o ditador Raúl Castro, e com membros da sociedade civil -dissidentes políticos.

O objetivo, disse o presidente, é pressionar o regime comunista a respeitar os direitos humanos e a fortalecer as medidas para "melhorar a vida do povo cubano". O embargo econômico sobre a ilha, porém, segue em vigor.

"Ainda temos diferenças com o governo cubano, e eu as abordarei diretamente", disse Obama no Twitter.

Twitter

Para a chefe de assuntos relativos aos EUA em Cuba, Josefina Vidal, a visita permitirá que Obama verifique as medidas do governo para concretizar "as mudanças necessárias para a melhoria do bem-estar da população".

A jornalistas, Vidal disse que "Cuba está disposta a conversar com o governo dos EUA sobre qualquer tema, inclusive direitos humanos, sobre os quais os dois países tem concepções diferentes".

Apesar da libertação de 53 presos políticos após o anúncio da reaproximação com os EUA, em 2014, Cuba ainda mantém dezenas deles em suas prisões, segundo a organização de direitos humanos Human Rights Watch.

"Os cubanos que criticam o governo continuam sujeitos a processos criminais. Eles não contam com as garantias do devido processo legal", diz a organização, em relatório sobre 2015.

VIAGEM HISTÓRICA

A viagem -a primeira de um presidente americano em exercício desde 1928, segundo a Casa Branca- faz parte de uma série de esforços de Obama para consolidar seu legado externo —que inclui o acordo nuclear com o Irã— e acelerar a reaproximação iniciada em 2014. Contudo, a maioria republicana no Congresso dificulta esse avanço.

Sem perspectivas de ter o embargo econômico à ilha suspenso pelo Legislativo americano, Obama levantou barreiras pontuais por meio de ordens executivas. Além disso, as respectivas embaixadas foram reabertas em julho e agosto de 2015, após mais de cinco décadas fechadas, e os países retomarão os voos comerciais entre si.

Stringer-14.ago.15/Reuters
A bandeira americana é hasteada pela primeira vez em 54 anos na embaixada dos EUA em Havana
A bandeira americana é hasteada pela primeira vez em 54 anos na embaixada dos EUA em Havana

A oposição americana vê os esforços como unilaterais.

"O governo cubano não é só uma ditadura comunista, é uma ditadura comunista antiamericana", disse o pré-candidato à Casa Branca Marco Rubio, filho de cubanos. "Quero que a relação mude, mas reciprocamente."

Seu adversário, colega de Senado e também filho de pai cubano Ted Cruz afirmou que, com a visita, Obama agirá "como quem se desculpa".

Se não ecoa entre os republicanos, a retórica de Obama parece estar fazendo efeito sobre a opinião pública. Pela primeira vez em décadas, neste ano, a maioria da população dos EUA (54%, contra 40% que se opõem) vê a ilha de forma positiva, mostrou pesquisa feita neste mês pelo instituto Gallup.

A comunidade cubana na Flórida elogiou a iniciativa de Obama com ponderações.

"Com a saída de Raúl Castro em dois anos [segundo o ex-presidente uruguaio José Mujica], o povo cubano enfrenta incertezas e desafios", disse Ric Herrero, diretor da Cuba Now, organização de cubanos na Flórida. "Não poderia haver momento melhor para Obama falar diretamente com os cubanos."

Nascido em Havana, o prefeito de Miami, Tomas Regalado, republicano, disse esperar que o presidente "não perca a chance de encontrar líderes da oposição".

A parada em Cuba fará parte de uma visita maior do líder americano à América Latina. De Cuba, Obama viajará à Argentina, onde se reunirá com o novo presidente, Mauricio Macri.

RELAÇÃO CUBA/EUA - Visita de Obama em março marca nova era entre Washington e Havana


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