Folha de S. Paulo


'Indiana Jones' 2.1 cria plataforma para frear contrabando de relíquias

A americana Sarah Parcak, pioneira no uso de satélites para descobertas arqueológicas, alertou para o aumento de pilhagens e destruição de monumentos no Egito e outras partes do mundo, ao anunciar a criação de uma plataforma on-line de rastreamento aberta para todos os internautas.

"Cem anos atrás, arqueologia era apenas para os ricos. Cinquenta anos atrás, apenas para os homens. E hoje, é principalmente para acadêmicos. Nosso objetivo é democratizar o processo", disse Parcak na noite de terça-feira (16), ao receber o TED Prize de US$ 1 milhão, um prêmio anual para projetos com potencial de mudanças globais.

Marla Aufmuth/TED
A arqueóloga Sarah Parcak dá palestra no TED 2016; projeto prevê plataforma global de rastreamento de peças arqueológicas
A arqueóloga Sarah Parcak dá palestra no TED 2016; projeto prevê plataforma global de rastreamento de peças arqueológicas

O contrabando de relíquias arqueológicas se agravou com os conflitos na Síria e no Iraque, ao longo dos últimos 13 anos, e serve, inclusive, como fonte de receita a milícias e grupos terroristas que combatem nesses territórios.

Como os arqueólogos não têm acesso às regiões tomadas pelo Estado Islâmico, por exemplo, a plataforma pode ajudar a rastrear o que ocorre nesses locais de pilhagens por satélite. Assim, é possível saber que tipos de artefatos podem chegar nos mercados e fazer listas alertando: quem comprar, estará financiando terrorismo.

O site será lançado nos próximos meses e irá disponibilizar imagens de satélite do mundo todo para serem analisadas online. A locação exata não será revelada para proteger os sítios, mas o usuário terá uma ideia se está no norte da Itália ou sul do Peru, por exemplo.

Com um tutorial, o internauta vai aprender a identificar templos, tumbas, pirâmides e poços de pilhagens para poder marcá-los. A informação coletada será enviada a governos e arqueólogos que, uma vez em campo, levarão câmeras para mostrar o processo ao vivo.

"Quero descobrir os milhares de sítios arqueológicos desconhecidos pelo globo, criando um exército do século 21 de exploradores globais", disse Parcak no palco do TED, uma conferência anual com palestras sobre ideias inovadoras em ciência, tecnologia e artes.

'Indiana Jones'

Apelidada de Indiana Jones contemporânea, Parcak surgiu de chapéu nas mãos, numa referência ao personagem vivido por Harrison Ford, que, aliás, se encontra no evento. Ela é professora da Universidade do Alabama em Birmingham e ficou famosa ao usar imagens de satélite e raios infravermelhos para identificar 17 pirâmides desconhecidas no Egito, além de mil tumbas e 3.000 assentamentos, em 2011.

"Sou uma arqueóloga espacial. A Nasa tem um curso sobre isto, é uma profissão de verdade", brincou.

Parcak falou sobre uma pesquisa recente de dez anos que fez no Egito, encontrando evidências de saques e destruição em 267 sítios arqueológicos e mais de 200 mil poços de pilhagem.

"Ao contrário da opinião pública, os saques não pioraram no Egito em 2011 durante a Primavera Árabe e sim em 2009, após a recessão global. Provamos com números que as pilhagens são uma questão econômica", disse. "Se não fizermos nada, todos os sítios arqueológicos do Egito serão afetados por saques até 2040. Estamos perdendo a batalha e precisamos agir rápido."


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