Após uma sessão de votação que durou mais de dez horas, o presidente do Senado do Haiti, Jocelerme Privert, 63, foi eleito pela Assembleia Nacional como chefe de Estado interino.
Privert foi ministro do Interior do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, deposto em 2004 no que deu início a um interminável ciclo de instabilidade política no país —motivo pelo qual tropas de paz da ONU, lideradas pelo Brasil, foram chamadas ao país e lá ainda estão.
Hoje há 2.370 militares no país, sendo 970 brasileiros.
A escolha de um aliado de Aristide pode ajudar a pôr fim às manifestações que tomaram o país, muitas delas lideradas por seus apoiadores.
Privert deve liderar o governo provisório até 14 de maio, quando ocorrerá a posse do vencedor do segundo turno das eleições presidenciais —remarcado para 24 de abril, após sofrer três adiamentos.
CRISE POLÍTICA
Os protestos refletem a descrença da população no processo eleitoral. Uma profunda crise entre governo e oposição atrasou em mais de três anos as eleições parlamentares, municipais e locais.
| Andres Martinez Casares/REUTERS | ||
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| O ex-presidente Michel Martelly (d) cumprimenta Jocelerme Privert (e) em cerimônia no Haiti |
O primeiro turno do pleito presidencial, em outubro de 2015, foi o único realizado dentro do prazo legal. No entanto, mesmo essa eleição foi marcada por denúncias de fraudes, alimentando a revolta popular que levou aos sucessivos adiamentos.
O candidato da oposição que passou para o segundo turno, Jude Célestin, acusou Jovenel Moise, apoiado pelo ex-presidente Michel Martelly (2011-2016), de ter sido injustamente favorecido e ameaçou desistir. Moise obteve 32,8% na primeira etapa, contra 25,2% de Célestin.
A situação agravou a crise política no país, e a Organização dos Estados Americanos (OEA) foi chamada a mediar o diálogo e encerrar o impasse.
Um acordo foi selado em 6 de fevereiro, prevendo um governo de transição de 120 dias e novas datas eleitorais. Um dia depois, Michel Martelly cumpriu o acerto e deixou a Presidência na data prevista.
Neste domingo (14), Privert prometeu buscar consenso entre as forças do Haiti e respeitar todos os pontos do acordo de transição da OEA.
Após Aristide ser deposto por grupos armados, Privert ficou preso por dois anos sob acusações de orquestrar um massacre de opositores-depois retiradas. Da saída de Aristide à eleição de René Préval (2006), o país teve dois anos de governo interino.