Folha de S. Paulo


Bernie Sanders, senador socialista de 74 anos, impõe desafio a Hillary

Bernie Sanders já foi carpinteiro, fez ponta em filmes e gravou um álbum com clássicos da música folk (segundo ele, "o pior já gravado").

Porém, mais de metade de seus 74 anos foi dedicada à política, uma trajetória de três décadas como político independente até se tornar uma das maiores sensações da campanha presidencial dos Estados Unidos, como mostrou a prévia desta terça (9) em New Hampshire, desafiando o favoritismo de Hillary Clinton no Partido Democrata.

Mark Kauzlarich/Reuters
O pré-candidato democrata Bernie Sanders, que venceu as primárias em New Hampshire
O pré-candidato democrata Bernie Sanders, que venceu as primárias em New Hampshire

O fenômeno Sanders fez o país começar a pensar no que antes parecia impossível: um socialista na Casa Branca.

Ele faz questão de acrescentar o "democrático" antes de socialista, mas acaba sendo identificado como socialista, do bate-papo informal ao "New York Times".

A surpresa é que o rótulo, que já foi alvo de caça às bruxas no país no auge da Guerra Fria, agora atrai um público nascido depois da queda do Muro de Berlim. O mais velho dos pré-candidatos à Casa Branca é, de longe, o mais popular entre os jovens.

Bernard Sanders nasceu no Brooklyn, em Nova York, numa família judia russo-polonesa de classe média baixa. Formou-se em ciências políticas na Universidade de Chicago, conhecida como "berço do radicalismo" pelo histórico de professores e alunos de esquerda.

As ideias socialistas que embasam o discurso de Sanders foram fermentadas no caldo da contracultura dos anos 60, onde sua vocação de ativista aflorou.

Aos 21 anos era presidente do Congresso da Igualdade Racial, organizou atos contra o racismo em Chicago, ocupou por 15 dias o gabinete do presidente da universidade e foi preso num protesto contra a segregação em escolas públicas.

Em 1968 instalou-se no Estado de Vermont, nordeste dos EUA, como parte da "migração hippie" da época, que buscava uma vida em comunidade. Trabalhou como carpinteiro, cineasta e escritor, e filiou-se ao Partido da União pela Liberdade, autodefinido como "socialista não violento". A inclinação para a política falou mais alto.

INDEPENDENTE

Pelo partido, perdeu duas para governador e duas para senador. Em 1981, decidiu concorrer como independente a prefeito de Burlington. Ganhou por dez votos. A partir daí não perdeu mais.

Hillary costuma evocar sua experiência de secretária de Estado como vantagem sobre Sanders, mas na vida política ele tem mais tempo do que ela, com um desempenho de respeito nas urnas: venceu 16 das 20 eleições que disputou.

Aqueles que o acompanham desde a primeira eleição dizem que ele sempre manteve o discurso contra a desigualdade econômica e de ataques ao mercado financeiro, mas exerceu o pragmatismo quando foi prefeito.

A prática de três décadas batendo na mesma tecla tornaram Sanders um duro oponente para Hillary.

Se ganhar a disputa democrata –algo em que a maioria dos analistas não aposta, nem a média nacional de pesquisas aponta–, Sanders seria o mais velho candidato à presidência dos EUA, e o primeiro não cristão.

Judeu não praticante, não costuma falar em público sobre sua fé. Mas seu pendor à política foi moldado na infância no Brooklyn, cercado pelo choque ainda recente do Holocausto, "bem consciente de que toda a família do meu pai fora assassinada por Hitler", como disse ao "Christian Science Monitor".

"Adolf Hitler venceu a eleição e 50 milhões de pessoas morreram como resultado, incluindo 6 milhões de judeus". disse. "O que aprendi criança é que a política é de fato muito importante."

A origem religiosa pode tirar votos do senador, mas menos que sua ideologia. Em pesquisa do Gallup, mais de metade dos norte-americanos disse que não votaria em um socialista. E 9% deles, que não escolheriam um judeu.


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