Folha de S. Paulo


Aparato midiático expande alcance do Estado Islâmico

A mensagem, citando normas do século 7º, pode parecer medieval. Mas o meio utilizado para divulgá-la é de uma modernidade tamanha.

A facção terrorista Estado Islâmico (EI) utiliza uma complexa estrutura de comunicação nas mídias sociais para divulgar seus vídeos de decapitação e destruição de patrimônio histórico na Síria e no Iraque, onde estabeleceu desde 2014 seu autoproclamado califado.

Reprodução
Vídeo divulgado em fevereiro mostra supostos soldados do Exército curdo sendo levados em jaulas por militantes do EI
Vídeo de fevereiro de 2015 mostra supostos soldados curdos sendo levados em jaulas por radicais do EI

Um relatório apresentado à ONU pelo pesquisador espanhol Javier Lesaca estima, por exemplo, que o EI tenha publicado mais de 920 campanhas audiovisuais em 22 meses, com o trabalho de 33 diferentes produtoras.

A estética, segundo Lesaca, é familiar ao público ocidental. Das gravações de execuções, quase metade foi inspirada em filmes como "Jogos Vorazes" e jogos eletrônicos como "Call of Duty".

O EI tem forte presença em dezenas de plataformas virtuais. Seus militantes estão no Facebook, no Twitter, no Telegram, no WhatsApp e em aplicativos desenvolvidos pelos próprios terroristas.

Para o especialista em contraterrorismo Daveed Gartenstein-Ross, é no Twitter que militantes causam mais dano. Ali, atingem uma audiência gigante que não necessariamente tem afinidade com o terrorismo.

"Em outros lugares, eles falam a pessoas que já estão interessadas em suas mensagens", diz. "No Twitter, podem interagir com pessoas que nem são simpatizantes."

Governos e empresas de comunicação caçam esses terroristas on-line, mas o esforço necessário é hercúleo. Estima-se que o EI controle 100 mil contas no Twitter.

CALIFADO MIDIÁTICO - Como a facção terrorista Estado Islâmico divulga sua mensagem pelo mundo

Há, além disso, um debate entre os líderes das ações de contraterrorismo. Apagar todos os perfis de militantes no Facebook, por exemplo, também significaria não poder rastreá-los e, assim, deixar de reunir um rol de valiosas informações para inteligência.

O exército que luta contra militantes nas redes sociais inclui grupos vigilantes como o Ghost Security, ligado ao coletivo de hackers Anonymous. Voluntários, seus membros rastreiam e atacam contas do Estado Islâmico.

"É verdade que o número de contas é astronômico, e é impossível remover todas", diz o usuário Katronux, que não revela seu nome real. "Parte do nosso objetivo é identificar ataques em potencial e impedi-los", diz. A informação é então repassada a governos, para que atuem.

"Não sou um soldado, mas faço o que posso para ajudar", diz Katronux. "Lutar contra o terrorismo na internet é parte da guerra."

REVISTA

Ferramentas como o Twitter, o YouTube e o Facebook são fundamentais para divulgar mensagens e vídeos, mas a comunicação mais sofisticada do EI está na "Dabiq", sua revista oficial em inglês.

"Trata-se da peça mais ampla e influente da propaganda do EI", diz o analista de segurança nacional Ryan Mauro, ligado ao projeto Clarion de contraterrorismo.

"Vídeos recebem mais atenção, mas a 'Dabiq' é publicada regularmente e possibilita enxergar uma ideologia, porque os militantes explicam por meio dela em que acreditam e citam suas fontes religiosas", diz.


Endereço da página:

Links no texto: