Folha de S. Paulo


Em disputa pelo poder, linha dura do Irã desqualifica neto de Khomeini

Hassan Khomeini, 43, pode ser o neto do líder da revolução islâmica iraniana em 1979, mas suas credenciais religiosas e políticas foram caracterizadas como insuficientes para qualificá-lo a um posto na Assembleia de Especialistas, o órgão que determinará o próximo líder supremo do Irã.

O Conselho Guardião, um órgão de proteção à constituição que verifica as credenciais de candidatos ao conselho, desqualificou Khomeini a despeito dos "testemunhos de todos aqueles líderes religiosos importantes" no sentido de que ele havia atingido um estágio suficientemente elevado de aprendizado religioso, ou ijtihad, para interpretar autonomamente a lei islâmica, afirmou Ahmad, o filho de Hassan Khomeini, em sua página no Instagram, terça-feira (26).

"O motivo para a desqualificação fica claro para todos", ele acrescentou, dando a entender que Khomeini, cuja candidatura causou indignação à linha dura, havia sido desqualificado por sua aliança com os reformistas.

A desqualificação de Khomeini é um revés para o presidente centrista Hassan Rowhani, e surge em meio a uma tensa disputa pelo poder entre as forças moderadas e a linha dura.

A implementação do histórico acordo nuclear, na semana passada, foi vista como grande vitória para as forças pró-reforma.

Mas seus oponentes conservadores estão determinados a manter o controle que exercem sobre instituições cruciais, e dizem que resistirão à infiltração por governos ocidentais determinados a "solapar o regime" utilizando as forças pró-reforma.

Os iranianos votarão no final de fevereiro para renovar o Legislativo e a Assembleia de Especialistas. Uma vitória das forças moderadas no Legislativo iraniano de 290 assentos seria importante para garantir a implementação do acordo nuclear e aumentar as chances de reeleição do presidente Rowhani em 2017.

Mas a composição da Assembleia de Especialistas, de 86 integrantes, é crucial para o futuro do Irã. O sucessor do aiatolá Ali Khamenei, 76, o líder supremo do país e mais alta instância decisória no Irã, será indicado pela assembleia, caso ele venha a morrer durante seu mandato de oito anos.

Apenas 166 dos 373 aspirantes a uma candidatura para a assembleia foram aprovado pelo Conselho Guardião, dominado pela linha dura, de acordo com reportagens da imprensa iraniana. Os desqualificados têm prazo até 30 de janeiro para recorrer da decisão.

Khomeini é um clérigo popular junto aos jovens iranianos e teria conquistado com facilidade um assento na assembleia, o que talvez pudesse ajudar a mudar a composição do órgão e a minorar seu domínio pela linha dura.

Rowhani questionou o procedimento de verificação de credenciais, na semana passada, perguntando por que os judeus e cristãos iranianos, que respondem por sete mil pessoas na população do país, têm direito a representantes no Legislativo enquanto um grupo [os reformistas] "cujos partidários incluem de sete a 10 milhões de pessoas não é representado".

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, apoia o processo duro de credenciamento pelo conselho, e afirmou na semana passada que pessoas que não aprovam o sistema islâmico não deveriam ser admitidas no Legislativo.

"Em lugar algum do planeta as pessoas que não aprovam o princípio central de um regime seriam autorizadas a ingressar nos centros decisórios daquele país", ele afirmou.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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