Folha de S. Paulo


Putin 'provavelmente' aprovou plano para matar ex-espião russo, diz juiz

Um inquérito da Justiça do Reino Unido divulgado nesta quinta-feira (21) colocou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, como quem "provavelmente" deu aval para envenenar o ex-espião Alexander Litvinenko, em 2006.

Agente da FSB (serviço de inteligência russo, a antiga KGB) entre 1986 e 1998, Litvinenko morreu em 23 de novembro, três semanas após ingerir uma dose do isótopo radioativo polônio-210.

AFP
ORG XMIT: 004401_1.tif O ex-espião russo Alexander Litvinenko, em hospital, em Londres (Inglaterra). Envenenado com o elemento radioativo polônio 210, o ex-agente da KGB morreu em 23 de novembro de 2006 e ditou uma carta acusando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de ter planejado o seu assassinato. O Kremlin nega. Litvinenko havia fugido para o Ocidente havia seis anos e se tornara cidadão britânico. Seu envenenamento ocorreu provavelmente em 1º de novembro, quando ele investigava as circunstâncias do assassinato, em Moscou, de uma jornalista russa que denunciara violações dos direitos humanos por Putin e seu governo na Tchetchênia. (FILES) A handout image released 20 November 2006, shows former Russian spy Alexander Litvinenko in his bed at the University College Hospital, in central London. Russia stood accused Friday 24 November 2006 of being behind the death of former spy Alexander Litvinenko, who lost his three-week fight for life in a London hospital after an apparent Soviet-style poisoning. But the charge has been repeatedly dismissed by Moscow and with few details from police, who are investigating the death as
O ex-agente Alexander Litvinenko, fotografado antes da sua morte, em 2006

Segundo as autoridades britânicas, o elemento químico teria sido colocado em um chá tomado por Litvinenko em encontro com dois ex-agentes russos no hotel Metropolitan, em Londres.

Responsável pelo inquérito, o juiz Robert Owen afirmou que há uma "grande probabilidade" de que a morte tenha sido planejada pela FSB e aprovada por Putin.

O magistrado afirma que o ex-agente "era visto como traidor da FSB", e "havia fortes motivos para organizações e indivíduos da Rússia tomarem ações contra Litvinenko, inclusive matá-lo".

Os investigadores afirmam que Andrei Lugovoi e Dmitry Kovtun, os russos que se encontraram com Litvinenko, não teriam motivos pessoais para matá-lo. É por isso que os britânicos acreditam em crime encomendado.

Depois da divulgação do inquérito, o governo do Reino Unido congelou os bens dos dois suspeitos. Segundo a agência de notícias Interfax, a Rússia não extraditará Lugovoi e Kovtun.

Para o primeiro-ministro David Cameron, as conclusões do inquérito são "extremamente sérias". "Não é a forma de nenhum Estado se comportar, muito menos um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU".

As autoridades russas negaram qualquer envolvimento na morte de Litvinenko e criticaram as conclusões do relatório britânico.

O porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, chamou o inquérito de brincadeira e afirmou que as autoridades britânicas querem envenenar a relação com a Rússia.

"Melhor deveríamos atribuí-lo ao humor inglês, o fato de que uma investigação pública se baseie em dados confidenciais de uns serviços secretos não identificados".

DESAFETO

Alexander Litvinenko deixou a FSB em novembro de 1998, depois de criticar a gestão à diretoria do órgão. Na época, a agência de inteligência de Moscou era comandada por Vladimir Putin.

O agente morto teria apresentado denúncias de envolvimento de militares e espiões com a máfia russa, que não chamaram a atenção do então líder de inteligência.

Putin afastou Livtinenko depois que ele concedeu uma entrevista coletiva confirmando um plano interno da agência para matar o empresário Boris Berezovsky, que se tornaria opositor ao atual presidente russo.

Em 2000, o agente morto deixou a Rússia e pediu asilo político ao Reino Unido. Lá, fez acusações incômodas contra o governo russo que podem ter levado à sua morte, se a hipótese da investigação britânica estiver correta.

Dentre as ações que Livtinenko imputou às autoridades russas, estavam pagar terroristas para forçar operações de tropas armadas em territórios como a Tchetchênia.

Dentre eles, as explosões em quatro prédios em três cidades russas, que deixaram 307 mortos em 1999, e as crises de reféns do teatro de Moscou, em 2003, e da escola de Beslan, em 2004.

Pouco antes de morrer, ele acusou Putin de ter uma boa relação com o líder da máfia russa, Semion Mogilevich.

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Polônio-210

Polônio-210

O QUE É
Elemento radioativo descoberto por Marie Curie em 1898 que emite partículas alfa altamente nocivas.

ONDE É ENCONTRADO
Existe na natureza, mas uma quantidade suficiente para matar teria de ser produzido em um reator.

POR QUE É RADIOTIVO
Substância emite partículas alfa, que não conseguem ultrapassar a pele, mas, ingeridas, podem penetrar facilmente as células e tecidos moles internos.

Sua meia-vida biológica (tempo para metade do total ser expelido do organismo) é de 30 a 50 dias.

Radiações


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