Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Relatório evita tachar massacre de yazidis pelo EI como genocídio

Na semana passada, foi descoberta mais uma vala comum no Iraque, com cerca de 130 cadáveres de indivíduos da etnia yazidi, minoria religiosa perseguida pela facção Estado Islâmico. Foram quase todos assassinados com tiros na nuca.

O relatório da ONU divulgado nesta terça (19) também relata em detalhes os abusos cometidos pelo EI contra os yazidis. Atualmente há cerca de 3.500 mulheres e crianças yazidis sendo usados pelo EI como escravos sexuais ou crianças-bomba.

Mas, apesar dos vários indícios de que o EI quer exterminar o povo, a cultura e a religião dos yazidis, a ONU resiste em afirmar de forma taxativa que esses massacres configuram genocídio.

Ari Jalal - 2.jan.2016/Reuters
Menino yazidi que fugiu da violência na cidade de Sinjar, no Iraque, em campo de refugiados em Duhok
Menino yazidi que fugiu da violência na cidade de Sinjar, no Iraque, em campo de refugiados em Duhok

"[Os atos do EI] podem, em alguns casos, ser crimes de guerra, contra a humanidade e, possivelmente, genocídio", limita-se a dizer o texto do relatório.

Em dezembro, parlamentares britânicos divulgaram uma carta pedindo ao primeiro-ministro David Cameron e à ONU que o massacre dos yazidis e cristãos sírios seja classificado como genocídio.

"Isso mandaria um recado claro aos organizadores dessa carnificina de que, em algum momento, eles serão presos, processados e punidos", dizia o texto.

"Além disso, iria estimular as 127 nações signatárias da Convenção da ONU para o genocídio a fazer o necessário para 'impedir e punir' os criminosos."

Mas nem o Reino Unido nem os EUA parecem dispostos a rotular inequivocamente a agressão contra os yazidis como genocídio.

Primeiro porque, ao apontar o dedo para os outros, eles teriam de reconhecer seus próprios crimes –no caso dos EUA, o genocídio dos índios americanos, e na Austrália, o dos aborígenes. Além disso, teriam de fazer alguma coisa para evitar "esse flagelo odioso", como manda a convenção.

A recusa do governo Clinton de reconhecer o massacre de 800 mil tutsis em Ruanda em 1994, porém, mostra que cálculos políticos muitas vezes se sobrepõem a considerações humanitárias.


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