Folha de S. Paulo


Pai de menino sírio morto em praia compara 'Charlie Hebdo' a terroristas

O pai do pequeno menino Alan Kurdi, menino refugiado que morreu afogado ao tentar chegar à Europa, criticou duramente o semanário satírico francês "Charlie Hebdo" neste sábado (16) por uma charge que sugere que seu filho se tornaria um agressor sexual quando crescesse, em referência à recente onda de denúncias contra imigrantes na Alemanha.

Em entrevista à agência de notícias AFP, Abdullah Kurdi disse que chorou ao ver a imagem. "Minha família ainda está abalada", disse.

Em um comunicado, o pai de Alan chamou o desenho de "desumano e imoral", afirmando que era "tão mau quanto as ações dos criminosos de guerra e terroristas" que causaram mortes e migrações em massa na Síria e em outros países.

Reprodução/Twittet
Charlie Hebdo depicts Arab migrants as beast-like creatures that are out of control. This is racist. Plain & simple
Charge do "Chalie Hebdo sobre imigrantes provocou polêmica nas redes sociais

No desenho, intitulado "migrantes" e assinado pelo cartunista Laurent Sourisseau, ou Riss, dois homens pervertidos correm atrás de mulheres apavoradas.

"O que o pequeno Alan seria se ele se tornasse adulto?", pergunta a charge, ao lado uma caricatura do corpo do menino afogado em uma praia. "'Apalpador' de bundas na Alemanha", acrescenta.

A ilustração foi publicada na última edição do "Charlie Hebdo", que foi às bancas nesta quarta-feira (13), menos de uma semana depois do primeiro aniversário do atentado terrorista à redação do semanário.

A rainha da Jordânia publicou em seus perfis do Facebook e do Twitter uma versão da caricatura. O desenho, de autoria do caricaturista jordaniano Osama Hajjaj, coloca ao lado do pequeno afogado um menino mais velho usando uma mochila escolar e depois, um médico.

A charge foi publicada em árabe, inglês e francês com a mesma pergunta inicial da caricatura do jornal francês: "No que teria se transformado o pequeno Alan se tivesse crescido?". a resposta: Alan poderia ter sido médico, professor ou pai carinhoso.

REFUGIADOS

O corpo de Alan Kurdi, 3, foi fotografado em uma praia na Turquia após o naufrágio da embarcação em que viajava com destino à Grécia. As imagens circularam o mundo, gerando comoção e atraindo atenção para a crise migratória no Mediterrâneo.

Em meio ao crescente drama vivido pelos refugiados, alguns governos europeus, como o da Alemanha, flexibilizaram suas políticas de asilo. Grupos ultranacionalistas reagiram à chegada de estrangeiros, acusando-os de ameaçar a vida cultural e econômica de seus países.

O discurso antimigrantes ganhou força após a recente onda de agressões físicas e sexuais contra mulheres, cometidas em grande parte por estrangeiros, durante as celebrações de Ano-Novo em Colônia, dentre outras cidades alemãs.

A apresentação de centenas de denúncias de violência provocou protestos e inspirou até mesmo a organização de ataques contra refugiados.

Nesta semana, o governo da chanceler alemã, Angela Merkel, reagiu às denúncias com medidas para facilitar a deportação de imigrantes que tenham cometido crimes sexuais ou delitos graves, como homicídios e sequestros.


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