Folha de S. Paulo


Saiba mais sobre os americanos libertados pelo Irã

O governo iraniano anunciou neste sábado (16) a libertação de quatro americanos em uma troca de prisioneiros com os EUA, medida vista como parte da aproximação com Washington à luz do fim das sanções econômicas internacionais contra o país persa.

Os libertados são o repórter do "Washington Post" Jason Rezaian, o ex-militar da Marinha dos EUA Amir Hekmati, o pastor Saeed Abedini e Nosratollah Khosravi-Roodsari. Rezaian, Hekmati e Abedini deixaram o Irã neste domingo (17).

Em troca, os EUA aceitaram libertar ou tirar as acusações contra sete iranianos acusados de violar as sanções americanas contra o Irã.

O estudante americano Matthew Trevithick também foi solto, mas sem relação com o acordo, segundo os EUA.

JASON REZAIAN

O repórter do "Washington Post" nasceu na Califórnia, na costa oeste americana, e cresceu no Condado de Marin.

Ele tem dupla cidadania americana-iraniana, mas passou a maior parte de sua vida nos EUA. Ele foi para o país persa em 2012, para ser correspondente do jornal no país.

Rezaian era chefe da sucursal do "Washington Post" em Teerã quando, em julho de 2014, as forças de segurança iranianas invadiram sua casa e o levaram preso, juntamente com sua mulher, Yeganeh Salehi.

Salehi foi solta, sob fiança, em outubro de 2014.

O jornalista foi acusado de espionar o programa nuclear iraniano e de reunir informações sobre violações das sanções internacionais contra o Irã. Tanto o próprio Rezaian, quanto o jornal e o governo americano negaram qualquer atividade de espionagem.

Ele foi condenado em outubro passado em um julgamento secreto —o Irã nunca revelou detalhes sobre a sentença ou a extensão de sua pena.

Nos últimos meses, o "Washington Post" fez duras críticas em seus editoriais ao governo de Barack Obama por não relacionar a soltura de Rezaian ao acordo nuclear.

Em uma carta recente ao secretário de Estado americano, John Kerry, 25 organizações de mídia pediram que ele pressionasse Teerã pela soltura do jornalista.

Rezaian é o jornalista ocidental que passou mais tempo preso no Irã. Sua família diz que sua saúde é frágil e que ele precisa de remédios —ele tem hipertensão, dores lombares e depressão.

AMIR HEKMATI

Reprodução
O ex-militar da Marinha dos EUA Amir Hekmati
O ex-militar da Marinha dos EUA Amir Hekmati

Ex-militar da Marinha dos EUA, Amir Hekmati nasceu no Arizona, mas foi criado em Flint, no Estado do Michigan.

Cidadão americano-iraniano, ele foi a Teerã em 2011 para visitar a família e passar um tempo com sua avó, que estava doente.

Antes da viagem, ele informou a seção que cuida de interesses iranianos nos EUA em Washington DC de que iria ao país e que seu passado militar poderia atrair suspeita. A equipe disse que não havia problema e aprovou a viagem, segundo relato de sua irmã, Sarah Hekmati, à agência de notícias Reuters em 2013.

Segundo ela, Hekmati desapareceu uma noite, quando deveria se encontrar com a família. Sumiram ainda seu laptop, câmera, celular e passaporte.

O ex-militar foi detido em agosto daquele ano, sob acusação de trabalhar para a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA). Após sua prisão, parentes afirmaram que foram orientados a não falar sobre o assunto.

No ano seguinte, Hekmati foi condenado à pena de morte. Uma corte pediu um novo julgamento e, em 2014, sua sentença foi reduzida para dez anos de prisão, sob uma acusação menos grave.

Ele e sua família negam as acusações. Segundo parentes, a prisão de Hekmati incluiu tortura psicológica e física, além de longos períodos de confinamento solitário em uma pequena cela.

Ainda segundo relato dos familiares, o ex-militar perdeu muito peso e começou a ter dificuldades para respirar, o que levou a uma suspeita de tuberculose.

Sarah disse que ele renunciou à dupla cidadania e prometeu nunca mais retornar ao Irã se conseguisse deixar o país. As declarações foram feitas em uma carta que ele ditou por telefone à sua mãe.

"Ficou muito claro para mim que aqueles responsáveis veem os iranianos-americanos não como cidadãos ou mesmo seres humanos, mas como fichas de barganha e ferramentas de propaganda", diz a carta, entregue ao Departamento de Estado americano.

"Considerando quão pouco valor o Ministério de Inteligência dá à minha cidadania e ao meu passaporte iranianos, eu, também, dou pouco valor a eles e informo que formalmente renuncio à minha cidadania iraniana e ao meu passaporte iraniano."

SAEED ABEDINI

07.mar.2010/AFP
Imagem de 2010 do pastor cristão Saeed Abedini
Imagem de 2010 do pastor cristão Saeed Abedini

O pastor de Boise, no Estado americano de Idaho, também tem dupla cidadania.

Abedini e sua mulher viajavam com frequência ao Irã para trabalhos voluntários pela igreja.

Ele foi detido pela primeira vez em 2009 e libertado após prometer parar de organizar igrejas dentro de casas. Na época, ele cuidava de um orfanato no Irã.

Sua segunda detenção ocorreu em setembro de 2012 sob acusação de comprometer a segurança nacional —especula-se que tenha sido por proselitismo cristão.

Em 2013, ele foi sentenciado a oito anos de prisão.

Sua mulher, Naghmeh Abedini, lançou uma campanha nacional por sua libertação. No ano passado, ela e seus filhos se encontraram com o presidente Barack Obama para discutir sua situação.

NOSRATOLLAH KHOSRAVI-ROODSARI

Ainda não há muitas informações sobre esse iraniano-americano, já que seu nome não havia sido divulgado previamente.

MATTHEW TREVITHICK

O estudante viajou para o Irã em setembro do ano passado, para um programa intensivo de quatro meses de estudo de línguas no Instituto Dehkhoda, afiliado à Universidade de Teerã.

Trevithick é cofundador da Organização de Avaliação e Pesquisa sobre a Síria, um centro de estudos sobre a crise humanitária na região, com sede na Turquia. Ele tirou uma licença do trabalho para melhorar sua fluência em dari, conhecida como "persa afegão", uma língua parecida com o farsi.

Seus pais dizem que ele aprendeu o idioma nos quatro anos que viveu no Afeganistão.

O estudante foi libertado após passar 40 dias na prisão de Evin, em Teerã, segundo comunicado divulgado por seus pais. Eles não dizem, contudo, sob que acusações ou circunstâncias ele foi preso.


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