Folha de S. Paulo


Presidente do Irã pede economia menos dependente do petróleo

O presidente do Irã, Hassan Rowhani, defendeu neste domingo (17) reformas econômicas e uma menor dependência da exportação de petróleo, um dia após o país celebrar o fim das sanções econômicas internacionais como parte do acordo nuclear.

Rowhani fez as declarações ao submeter a proposta de orçamento para o próximo ano fiscal iraniano, que começa em 21 de março, ao Parlamento.

Atta Kenare/AFP
Presidente iraniano, Hassan Rouhani, faz discurso no Parlamento e elogia acordo nuclear
Presidente iraniano, Hassan Rouhani, faz discurso no Parlamento e elogia acordo nuclear

Ele afirmou aos presentes que a recente queda no preço do petróleo é a melhor razão para "cortar o cordão umbilical" com essa exportação.

Mesmo com o anúncio do fim das sanções e a grande expectativa pela retomada das exportações de petróleo, o produto representa menos de 25% da renda prevista no orçamento apresentado por Rowhani, que chega a US$ 75 bilhões. No ano anterior, o produto representava 33% do orçamento de US$ 72 bilhões.

No documento, o governo iraniano coloca o barril de petróleo a US$ 40.

Nessa semana, o preço do barril ficou abaixo de US$ 30 pela primeira vez em 12 anos, em parte pela expectativa do retorno do Irã ao mercado.

O fim das sanções econômicas ao Irã deve derrubar ainda mais os preços.

Detentor da quarta maior reserva de petróleo do mundo, o equivalente a 10% do total, o Irã reduziu fortemente sua presença do mercado nos últimos anos por causa das sanções.

Antes mesmo do anúncio do fim das medidas restritivas, o país já avisara que pode elevar a produção e as exportações em 500 mil barris de petróleo ao dia imediatamente. O volume é equivalente a 2% das exportações da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), cartel do qual o Irã é membro.

O presidente afirmou ainda que o acordo nuclear com os EUA e a União Europeia é uma "página dourada" na história do país e um "ponto de virada" para a economia nacional.

"O acordo nuclear é uma oportunidade que devemos usar para desenvolver nosso país, melhorar o bem-estar da nação e criar estabilidade e segurança na região", disse Rowhani.

Com a revogação das sanções, o Irã voltará a ter acesso a US$ 100 bilhões de bens congelados. A medida também permitirá ao país se beneficiar de novas oportunidades comerciais e financeiras.

O presidente iraniano aproveitou o discurso para alfinetar o rival histórico Israel. Ele disse que todos estão felizes com o acordo nuclear, menos os sionistas, termo com o qual os iranianos se referem aos israelenses.

"Ao [implementar] o acordo, todos estão felizes exceto os sionistas, belicistas, semeadores de discórdia entre as nações islâmicas e extremistas nos EUA. O resto está feliz", disse.

O ACORDO

Os EUA e a União Europeia anunciaram neste sábado (16) a revogação de sanções econômicas em vigor há anos contra o Irã, abrindo caminho para o país persa se integrar à economia mundial.

A decisão foi tomada como consequência de acordo nuclear fechado no ano passado, e após a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), braço da ONU, certificar que o país persa cumpriu as obrigações a que se comprometeu.

Sob o acordo de 14 de julho, o Irã concordou em desmantelar programas que poderiam ser usados para fabricar armas atômicas em troca do fim das sanções. O pacto coloca várias atividades da nação sob supervisão da AIEA por 15 anos, com a opção de que punições sejam reimpostas se o Irã descumprir os compromissos.

O anúncio ocorreu horas depois de o Irã ter libertado quatro americanos, incluindo o repórter do "The Washington Post" Jason Rezaian, em troca de sete iranianos presos ou indiciados nos EUA.

O estudante americano Matthew Trevithick também foi solto, mas sem relação com o acordo, segundo os EUA.

TROCA DE PRESOS

O fim das sanções e a troca de presos fazem parte de um movimento cujo objetivo é aos poucos eliminar o isolamento internacional iraniano.

Desde a Revolução Iraniana, em 1979, o país é alvo de sanções dos EUA. Elas foram se acumulando ao longo das décadas em resposta ao programa nuclear do país.

As sanções levantadas neste sábado se restringem àquelas aplicadas em resposta ao programa atômico iraniano —continuam em vigor as aplicadas em reação a denúncias de violações dos direitos humanos.

Efe
O jornalista Jason Rezaian e sua mulher, a também jornalista Yeganeh Salehi
O jornalista Jason Rezaian e sua mulher, a também jornalista Yeganeh Salehi

Os presos libertados pelo Irã —além de Rezaian, o ex-fuzileiro naval Amir Hekmati, o pastor Saeed Abedini e Nosratollah Khosravi-Roodsari— voariam para a Suíça antes de serem transportados para um hospital americano em Landstuhl, na Alemanha, para tratamento médico.

Em troca, os EUA anunciam a libertação de sete iranianos —seis dos quais têm dupla cidadania—- acusados de violar as sanções americanas contra o Irã. Não está claro se deixarão os EUA.

Além disso, os EUA suspenderão junto à Interpol mandados para a extradição de outros 14 iranianos supostamente envolvidos com tráfico de armas.


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