Folha de S. Paulo


Para Kerry, acordo nuclear passou de promessa a ação; presidente do Irã celebra 'benção'

Kevin Lamarque/Reuters
U.S. Secretary of State John Kerry talks with Iranian Foreign Minister Mohammad Javad Zarif after the International Atomic Energy Agency (IAEA) verified that Iran has met all conditions under the nuclear deal, in Vienna January 16, 2016. REUTERS/Kevin Lamarque ORG XMIT: KAL130
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry (à esq.), e o chanceler iraniano, Javad Zarif, em Viena

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse, em pronunciamento em Viena, na Áustria, que este sábado (16) é o "primeiro dia de um mundo mais seguro".

Falando à imprensa logo após o anúncio da revogação das sanções dos EUA e da União Europeia contra o Irã, Kerry afirmou que o acordo estabelecido neste sábado alterou fundamentalmente o programa nuclear iraniano e reduziu a ameaça de uma arma nuclear no país.

Para o secretário de Estado, essa nova etapa representa um horizonte de oportunidade para o povo iraniano e lembra "o poder da diplomacia para enfrentar desafios significativos".

"Hoje registra-se o momento em que o acordo nuclear iraniano passa de um ambicioso conjunto de promessas no papel para a ação direta e mensurável", afirmou. "Hoje, os Estados Unidos, nossos amigos e aliados no Oriente Médio e o mundo inteiro estão mais seguros, porque a ameaça de uma arma nuclear foi reduzida".

Segundo Kerry, o Irã "deu passos significativos, que muitas –eu enfatizo, muitas– pessoas duvidaram que seriam verdade". "Isso deve ser reconhecido, ainda que a medida completa dessa conquista só possa ser concretizada assegurando-se a contínua e integral conformidade [com o acordo] nos próximos anos", finalizou.

O americano aproveitou seu discurso para informar que os americanos liberados horas antes do anúncio da revogação das sanções já haviam sido soltos e deviam estar "a caminho de casa".

Já na madrugada de Viena membros do governo americano disseram que os quatro prisioneiros não estavam mais sob custódia iraniana e aguardavam trâmites logísticos para serem reunidos em Teerã e colocados em um avião para os EUA.

Um quinto americano liberado, o estudante Matthew Trevithick, já estaria a caminho do país natal.

Mais detalhes sobre os iranianos detidos nos EUA e envolvidos na troca de prisioneiros, segundo fontes do governo, só seriam informados após os americanos deixarem o Oriente Médio.

NO IRÃ

Mais cedo, o presidente iraniano, Hassan Rowhani, usou sua conta no Twitter para celebrar o acordo, que chamou de "benção".

"Eu agradeço a Deus por essa benção e me curvo à grandeza da paciente nação do Irã. Parabéns por essa gloriosa vitória", escreveu na rede social.

Hassan Rowhani

O chanceler do Irã, Javar Zarif, que fez o anúncio da revogação das sanções ao lado da chefe de Política Externa da UE, Federica Mogherini, também usou o Twitter para comentar desdobramentos do acordo.

"É o tempo para todos –especialmente as nações muçulmanas– darem as mãos e livrar o mundo do extremismo violento. O Irã está pronto", escreveu.

Javar Zarif

Como John Kerry, ele também valorizou a importância da diplomacia. "Diplomacia requer paciência, mas todos sabemos que ela certamente supera as alternativas."

REPERCUSSÃO

Horas após o anúncio, representantes de outros países comentaram o acordo.

O chanceler britânico, Philip Hammond, destacou o papel inglês nas negociações. "O acordo nuclear com o Irã, em que o Reino Unido teve papel central, torna o Oriente Médio e o mundo ao redor um lugar mais seguro", disse, em comunicado. "O futuro é tão importante quanto a referência que estabelecemos hoje."

O ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, disse que o país permanecerá "vigilante" para que o acordo seja estritamente respeitado e implementado.

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, emitiu um comunicado dizendo que o Irã não desistiu de suas ambições nucleares e que o país permanece sendo uma força desestabilizante no Oriente Médio, bem como apoiadora do terrorismo.

O texto afirma que as potências mundiais devem monitorar o Irã de perto e responder de forma dura qualquer violação de suas obrigações.


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