Folha de S. Paulo


Depoimento

Libertação de jornalista é fim de angústia, diz repórter da Folha

"Jason está livre", li, incrédulo, na tela do celular na manhã deste sábado.

A mensagem, enviada via WhatsApp por uma colega iraniana em Teerã, encerrou 18 meses de angústia para todos os que, como eu, viam o correspondente do "Washington Post" preso no Irã não só como um nome no noticiário mas como amigo próximo.

Conheci Jason Rezaian no dia em que desembarquei em Teerã para ser correspondente da Folha, em 2011. Quase três anos depois, foi ele quem organizou minha festa de despedida.

Nesse intervalo, nos divertimos, viajamos e comemos um monte. Seu casamento com Yeganeh (iraniana) foi divertidíssimo. Também compartilhamos apertos. O Irã, embora encantador, não é fácil para jornalistas.

Jason, que se orgulha de ter herdado a cidadania iraniana do pai, foi a pessoa que mais me ensinou sobra a grande nação persa.

Nosso último contato foi um e-mail que recebi dias antes de ele ser preso. Num trecho com ares premonitórios, ele escreveu: "Sinto que estou entrando num novo período da minha vida e talvez isso traga certa solidão".

A mensagem terminava com um "Take care hermano. Un abrazo" –como bom nativo da Califórnia, Jason se vira em espanhol.

Me enrolei e não respondi. Ao saber da prisão, escrevi na esperança de que ele poderia acessar computador. A mensagem voltou.

A acusação de espionagem era ridícula. Que informação sigilosa Jason poderia conseguir num país onde estrangeiros são vetados até de entrar em prédios oficiais? Uma fonte na Guarda Revolucionária sempre dizia:

"Os verdadeiros espiões são iranianos dentro do governo".

Nesse ambiente de paranoia, traço iraniano que mais incomodava minha namorada (brasileira) e eu, era impossível conseguir informação sobre Jason de dentro do Irã. Eu só era atualizado conversando com gente no exterior.

A mulher de Jason, que também esteve presa durante algumas semanas, teve permissão para sair do Irã. Estou ansioso para falar com eles. Torço para que superem o trauma.

O jornalista SAMY ADGHIRNI foi correspondente no Irã de 2011 a 2014


Endereço da página:

Links no texto: