Folha de S. Paulo


Irã anuncia libertação de repórter do 'Washington Post' e mais 3 americanos

O governo iraniano anunciou neste sábado (16) a libertação de quatro prisioneiros americanos, incluindo o repórter do "Washington Post" Jason Rezaian.

A libertação, anunciada pela agência iraniana oficial Fars e pela TV estatal iraniana, faria parte de uma troca de prisioneiros.

O governo americano ainda não se pronunciou e o jornal "Washington Post" diz aguardar confirmação da libertação por fonte oficial.

A agência de notícias Associated Press, contudo, cita uma autoridade americana dizendo que a troca foi acordada nas últimas 24 horas, após 14 meses de negociação. Segundo essa autoridade, que não foi identificada, os americanos libertados voarão para Suíça.

Rezaian foi condenado no ano passado por espionagem à República Islâmica.

Efe
GRA01. TEHRAN (IRÁN), 25/07/2014.- En la imagen el periodista iraní de El Washington Post, Jason Rezaian (d) y su mujer la iraní Yeganeh Salehi, quien trabaja para el periódisco nacional de los UAE y que han sido detenidos junto a un fotógrafo sin que se hayan difundido aún los motivos de este arresto. EFE/STRINGER ORG XMIT: GRA01
O jornalista Jason Rezaian e sua mulher, a também jornalista Yeganeh Salehi

A Justiça iraniana não informou, contudo, detalhes sobre a sentença ou a pena.

Ele foi detido em julho de 2014 em sua casa em Teerã junto com sua mulher, Yeganeh Salehi, que foi liberada dias depois. Uma terceira acusada, cujo nome não foi divulgado, também foi detida na ocasião e libertada depois.

O jornalista é acusado de espionagem, colaboração com governos hostis e propaganda contra o regime. Ele nega todas as acusações.

Kris Coratti, vice-presidente de Comunicações e porta-voz do "Washington Post", disse que a equipe do jornal está esperançosa, mas ainda não recebeu qualquer confirmação oficial da libertação de seu repórter.

TROCA

A troca de prisioneiros inclui ainda, também segundo a Fars, a libertação de Saeed Abedini, pastor cristão do Estado de Idaho que foi sentenciado a oito anos de prisão em 2013 por ameaçar a segurança nacional, e Amir Hekmati, ex-marine de Michigan preso em 2011 enquanto visitava sua avó na capital, sob acusação de trabalhar para a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA).

O quarto prisioneiro libertado é Nosratollah Khosrawi, também de nacionalidade iraniana-americana.

A mulher de Abedini, Naghmeh, confirmou em seu perfil no Twitter a libertação do marido.

Twitter Naghmed Abedini

"Com base na aprovação do Conselho Supremo Nacional de Segurança e nos interesses gerais da República Islâmica, quatro prisioneiros iranianos com dupla nacionalidade foram libertados hoje dentro de um acordo de troca de prisioneiros", disse o promotor de Teerã Abbas Jaafari, citado pela Fars.

A fonte do governo americano ouvida pela Associated Press afirmou que um quinto americano foi libertado pelo Irã. Esse último, contudo, não faria parte da troca de prisioneiros acordada entre Irã e EUA.

Mais cedo, jornais americanos haviam identificado o quarto americano como Siamak Namazi. Segundo a agência Fars, contudo, o empresário não faz parte da troca. Não está claro até o momento se Namazi seria este quinto americano libertado fora do acordo de troca de prisioneiros.

Segundo a agência, os EUA libertaram sete iranianos-americanos presos por acusações relacionadas às sanções impostas por Washington ao Irã. Já a agência Irna, outro veículo oficial do país, diz que o acordo inclui ainda que os EUA retirem pedido à Interpol ´para extradição de outros 14 iranianos supostamente envolvidos com tráfico de armas ao Irã.

As agências Fars e Irna identificam os sete libertados como Nader Modanlou, Bahram Mechanic, Khosrow Afqahi, Arash Ghahreman, Touraj Faridi, Nima Golestaneh e Ali Sabounchi.

DIPLOMACIA

A notícia da libertação dos prisioneiros americanos chega horas depois do chanceler iraniano, Javad Zarif, declarar que Teerã cumpriu sua parte no acordo nuclear com as potências ocidentais e que espera que a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) reconheça o feito e leve à derrubada das sanções internacionais ao país ainda neste sábado (15).

Caso o cumprimento do acordo seja efetivamente confirmado, será um grande avanço nas estremecidas relações entre EUA e Irã.

A captura do jornalista do "Washington Post" tem sido um dos principais motivos de atrito diplomático entre os dois países. Desde a notícia de sua condenação, a imprensa iraniana falava que o jornalista poderia ser solto em troca da libertação de iranianos presos nos Estados Unidos. O governo americano nunca confirmou uma negociação nesse sentido.

REPERCUSSÃO

O Conselho Nacional Iraniano Americano (Niac, na sigla em inglês) classificou a troca de prisioneiros como um "triunfo da diplomacia que deveria ser elogiado universalmente".

O influente grupo lobista atribui a libertação ao avanço nas relações diplomáticas trazido pelo acordo nuclear e recomenda que os dois países aprofundem os esforços para resolver outras questões que os separam.

O Niac pede ainda que o Irã garanta que iranianos-americanos não sejam ameaçados ao viajar ao país persa e que detenções como essas não aconteçam de novo.

OUTROS CASOS

Em setembro de 2011, o Irã libertou dois norte-americanos que manteve presos por dois anos sob acusação de espionagem.

Eles foram liberados após acordo negociado com Omã e sob fiança total de US$ 1 milhão.

Os alpinistas Shane Bauer e Josh Fattal foram condenados a oito anos de prisão por espionagem e por atravessar ilegalmente a fronteira entre o Iraque e o Irã. Uma terceira alpinista, Sarah Shourd foi libertada em setembro de 2010 por motivos de saúde, depois de um acordo semelhante e do pagamento de uma fiança de US$ 500 mil.

Washington negou à época que os viajantes tivessem qualquer envolvimento com atividades de espionagem e disse que atravessaram a fronteira em uma área na qual ela não está identificada claramente, e pela qual faziam uma caminhada.


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