Folha de S. Paulo


Posse da oposição marcou volta da imprensa ao Parlamento da Venezuela

Um dos momentos marcantes da posse do novo Parlamento venezuelano, nesta terça-feira (5), foi quando deputados da bancada opositora majoritária homenagearam jornalistas venezuelanos e estrangeiros que voltavam a ter acesso ao Parlamento pela primeira vez em seis anos.

Os profissionais de imprensa que abarrotavam o plenário e seus dois mezaninos gritaram e aplaudiram. Houve apertos de mão e abraços entre colegas de dezenas de nacionalidades.

Miguel Gutiérrez - 5.jan.16/Efe
Deputados fazem o juramento antes de tomarem posse na Assembleia Nacional da Venezuela
Deputados fazem o juramento antes de tomarem posse na Assembleia Nacional da Venezuela

Na falta do devido credenciamento, que a antiga diretoria chavista distribuía apenas a meios de comunicação alinhados com o governo, os jornalistas puderam entrar no local usando apenas carteira de imprensa ou passaporte, caso da Folha.

Na quarta-feira, o deputado Biagio Pilieri, da aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática), usou a primeira sessão da nova legislatura para anunciar um acordo, aprovado pela maioria, para regularizar a situação e permitir o livre acesso da imprensa.

A deputada chavista Tania Diaz protestou. "Não dar acesso aos repórteres é uma normativa internacional em todos os Congressos", disse em entrevista a um canal de televisão local.

A declaração contradiz a realidade em dezenas de países, inclusive o Brasil, onde jornalistas podem atuar nas dependências dos respectivos Parlamentos.

A relação entre o governo e a imprensa, que já era difícil sob a Presidência de Hugo Chávez (1999-2013), complicou-se na era Nicolás Maduro.

Jornalistas queixam-se do acesso restrito às autoridades, da falta de dados oficiais elementares, como taxa de inflação, e dos entraves burocráticos.

O governo, por exemplo, se recusa a fornecer visto de residência e credenciais a vários correspondentes de veículos estrangeiros, obrigando profissionais a trabalhar numa espécie de semiclandestinidade.

Há vasto registro de agressões físicas contra jornalistas. O mais recente ocorreu na quarta-feira (6), quando repórteres do site opositor La Patilla foram espancados por simpatizantes chavistas nas cercanias da Assembleia Nacional.

Também existem ataques lançados pela oposição. Um repórter do canal internacional chavista Telesur foi hostilizado e insultado nos últimos dias ao tentar cobrir uma marcha em apoio à MUD.

Organismos de defesa da liberdade de imprensa criticam com frequência a Venezuela pelos abusos contra jornalistas, que também incluem cooptação forçada de veículos de comunicação e restrições aos dólares preferenciais para importar papel e insumos.

O governo chavista acusa a mídia privada de alinhamento aos interesses das elites e lembra que muitos canais de TV e jornais apoiaram a fracassada tentativa de golpe de Estado contra Chávez, em 2002.


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