A decisão da Coreia do Norte de realizar um teste nuclear foi tomada com dois objetivos principais: pressionar os EUA a negociar um acordo de paz e indicar que o país está protegido contra ataques.
Esse foi o relato feito por um diplomata do país ao embaixador brasileiro em Pyongyang, Roberto Colin, em reunião nesta quinta (7).
"Eles dizem que não tinham outra escolha, porque não há quem possa defender o país de uma eventual agressão norte-americana. É isso que frisaram bem: 'ninguém nos protege'", diz Colin.
Um dos temores dos norte-coreanos, afirma, é que os exercícios militares de EUA e da Coreia do Sul sejam um "ensaio" para uma invasão.
E isso não é levado em conta pelos países que condenam o teste nuclear, argumentam os norte-coreanos, para quem o cenário é visto de "maneira unilateral".
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Imagem da imprensa norte-coreana mostra ditador Kim Jong-un assinando ordem para teste nuclear |
No encontro com Colin, o chefe do Departamento da América Latina, Ho Yong Bok, afirmou estar a par da posição do governo brasileiro, mas disse esperar que o episódio não abale as relações bilaterais.
Em nota, o Itamaraty demonstrou "grande preocupação" com o teste e condenou-o "veementemente".
À exceção da aliada histórica Cuba, o Brasil é o único país da região com representação diplomática em Pyongyang, que deseja estreitar os laços comerciais.
No ano passado, o comércio entre os países atingiu US$ 18,1 milhões.
A cooperação em educação foi um dos temas da reunião, além da possibilidade de importação de carne bovina do Brasil. "Sobretudo agora, com esse mau momento com a China, noto que eles têm esse interesse", disse o embaixador. Principal parceiro econômico da Coreia do Norte, Pequim também fez críticas ao regime de Kim Jong-un.
Nesta quinta, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou que falou com seu colega chinês e lhe disse que a aproximação "suave" para frear a Coreia do Norte fracassou. Kerry disse a Wang Yi que a China precisa agora ser mais dura com o regime comunista de Kim Jong-un.
SEGURANÇA
No dia seguinte ao teste nuclear, a Coreia do Sul discutiu com os Estados Unidos a instalação de "armas estratégicas", como sistemas de mísseis, na zona desmilitarizada que a separa do Norte.
Medida similar foi tomada em 2013, depois do penúltimo exercício de Pyongyang com armas atômicas. Na ocasião, os Estados Unidos enviaram dois aviões bombardeiros B-2, capazes de disparar bombas nucleares.