Folha de S. Paulo


Chavistas acirram confronto e hostilizam líder da oposição

Na véspera da posse da nova legislatura opositora, o novo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Henry Ramos Allup, foi impedido nesta segunda (4) de entrar no prédio administrativo do Parlamento e teve de ser escoltado por policiais para não ser agredido.

Em meio a uma escalada de hostilidades governistas que prenunciam alta tensão na cerimônia desta terça-feira (5), chavistas também saquearam equipamentos do canal de TV parlamentar, cujo sinal foi tirado do ar.

Ronaldo Schemidt/AFP
Grupo chavista vaia opositor Ramos Allup e bate em seu carro, que teve se ser escoltado
Grupo chavista vaia opositor Ramos Allup e bate em seu carro, que teve se ser escoltado

Ramos Allup foi barrado no início da tarde, quando tentava ingressar nas dependências da sede administrativa para, segundo ele, emitir documentos relativos à sua declaração de imposto de renda como deputado, cargo que exerce desde 2010.

Funcionários chavistas fecharam as portas do prédio, e o chefe de segurança anunciou a Ramos Allup que não lhe permitiria acesso.

"Se eu tivesse argumentado que era meu direito constitucional, [o chefe de segurança] teria sacado uma pistola. Então me retirei do local", relatou o deputado, que defende abertamente a renúncia do presidente Nicolás Maduro.

Ao se retirar, Ramos Allup foi cercado e insultado por manifestantes, obrigando policiais a intervir para levá-lo até seu carro.

O episódio acirra temores de confronto entre simpatizantes da aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática) que tomarão as ruas para celebrar a posse e grupos civis armados pelo chavismo que prometem resistir à "Assembleia burguesa."

Assembleia Venezuelana

Há tensão também pelo anúncio da MUD de que vai ignorar decisão da Justiça que invalidou a eleição de três deputados antichavistas.

O Tribunal Superior de Justiça (corte suprema) acatou pedido do governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) para impugnar resultados das urnas no Estado de Amazonas, sob alegação de compra de votos. A medida também suspendeu a proclamação de um deputado do PSUV. A corte não disse se haverá novas eleições locais.

A MUD diz que a manobra visa a torpedear sua supermaioria obtida na eleição de 6 de dezembro. Caso perca três deputados, a aliança ficaria com 109 das 167 cadeiras, o que implicaria o fim da maioria de dois terços, que permite emendar a Constituição, aprovar Constituinte ou destituir altos funcionários.

Numa aparente tentativa de acalmar os ânimos, Maduro disse na noite de terça que seu governo está em contato com representantes da MUD para "garantir a paz". Ele, porém, exigiu que a MUD "respeite as instituições de Estado" e ameaçou reprimir supostos planos de violência opositora.

O ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, também se pronunciou.

Em meio a rumores de que estaria disposto a enfrentar Maduro para defender a legalidade, o ministro deu declarações ambíguas. Disse que as Forças Armadas são "profundamente bolivarianas e revolucionárias", mas também respeitosas da Constituição e dos direitos humanos.

OUTRAS MANOBRAS

Manobras do governo para esvaziar poderes da nova legislatura também incluem a substituição, no apagar das luzes do atual Parlamento, de 13 dos 32 magistrados do TSJ, num claro esforço para blindar o Executivo nos embates contra o Legislativo.

Os novos magistrados, cuja nomeação dificilmente será revertida, ficarão no cargo por 12 anos. Eles foram apontados após os antecessores serem aposentados mais de um ano antes do prazo.

O governo criou, ainda, um Parlamento Comunal, que poderá se reunir quando quiser na Assembleia e aprovar leis "em favor do povo".


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