Folha de S. Paulo


Aliados regionais da Arábia Saudita tensionam relações com Irã

Bahrein, Sudão e Emirados Árabes Unidos somaram-se à Arábia Saudita na segunda-feira (4) e afastaram-se diplomaticamente do Irã, após uma série de medidas que podem aprofundar disputas sectárias no Oriente Médio.

A Arábia Saudita, um país de maioria sunita, havia rompido no domingo os seus laços com o Irã, de maioria xiita, depois do ataque a sua embaixada em Teerã. Sunismo e xiismo são duas seitas distintas entre muçulmanos.

A Arábia Saudita foi seguida um dia depois por Bahrein, de maioria xiita mas governado por sunitas, e pelo Sudão, de maioria sunita, que também cortaram os laços com o governo iraniano.

Depois de Bahrein e Sudão romperem com o Irã, os Emirados Árabes Unidos rebaixaram o grau das relações diplomáticas com o Irã para apenas assuntos comerciais.

Autoridades sauditas, ademais, afirmaram que irão interromper todo o tráfego aéreo e o comércio com o Irã até que essa nação passe a agir "como um país normal".

Segundo o chanceler saudita Adel al-Jubeir, fiéis iranianos ainda poderão visitar a Arábia Saudita durante peregrinações à cidade sagrada de Meca —uma das preocupações imediatas surgidas durante a crise atual.

Não está claro, porém, como o ritual poderá ser realizado em meio à tensão política. O Irã, por exemplo, não enviou peregrinos a Meca em períodos anteriores de crise.

INTERFERÊNCIA

Aliados da Arábia Saudita acusam o Irã de interferência na região. Esse país apoia, por exemplo, o regime sírio e a milícia xiita libanesa Hizbullah. Mas a Arábia Saudita igualmente interfere em seus vizinhos, bombardeando atualmente, por exemplo, uma milícia xiita no Iêmen.

A Arábia Saudita, além disso, auxiliou o Bahrein na repressão a protestos da maioria xiita em 2011, na Primavera Árabe.

Não está claro se outros países seguirão o exemplo de Arábia Saudita, Bahrein e Sudão. A Somália, por exemplo, criticou o ataque à embaixada saudita em Teerã.

Esta recente crise diplomática teve início no sábado, quando a Arábia Saudita executou o clérigo xiita Nimr al-Nimr, que criticava o trato à minoria na Arábia Saudita.

A morte levou a protestos entre populações xiitas. Em seguida, a embaixada saudita e um consulado foram atacados por manifestantes.

Há um desconforto histórico entre sunitas e xiitas, o que por vezes leva esses embates a serem entendidos como uma guerra religiosa.

Mas as disputas entre ambas as potências estão inseridas em um contexto mais amplo, com desavenças políticas e ansiedades vindas de ambos os lados por maior influência no Oriente Médio.

A Arábia Saudita apoia, por exemplo, rebeldes na disputa contra o ditador sírio Bashar al-Assad, mas o Irã é um aliado do regime sírio.

As potências mundiais veem com preocupação a diminuição de relações. O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, pediu a ambos os países que ponham limites ao conflito diplomático.

"Nós continuamos sim preocupados com a necessidade de tanto iranianos quanto sauditas de amenizar a situação. Nós pedimos que todos os lados coloquem algum limite e não continuem a inflamar a tensão que já tem demonstrações fortes na região."

A Rússia se ofereceu para mediar a crise, de acordo com a agência RIA Novosti, enquanto a França e a Alemanha pediram calma aos dois países.

MUNDO ÁRABE EM DISPUTA


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