O governo russo criticou os Estados Unidos em texto sobre sua estratégia de segurança nacional, segundo o qual o país vem sofrendo "novas ameaças" de "natureza complexa".
O documento "Sobre a Estratégia de Segurança Nacional da Federação da Rússia" foi assinado pelo presidente Vladimir Putin na véspera do Ano Novo —menos de 15 dias depois de ele afirmar, em entrevista a jornalistas, que estava pronto para melhorar as relações com Washington.
Maxim Zmeyev-17.dez.2015/Reuters | ||
Vladimir Putin em entrevista a jornalistas, em Moscou |
O relatório substitui a versão de 2009 aprovada pelo então presidente e atual primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, que não mencionava os EUA nem a Otan.
De acordo com o documento, a Rússia conseguiu aumentar o seu papel na resolução de conflitos internacionais, o que levou à reação dos países do Ocidente que não querem abrir mão de seu protagonismo em assuntos globais.
"O fortalecimento da Rússia acontece num contexto de novas ameaças para a segurança nacional, que têm natureza complexa e inter-relacionada", diz o documento.
"A condução de uma política independente, tanto nacional quanto internacional, causou a oposição dos EUA e de seus aliados, que se esforçam para manter o domínio nos assuntos globais", continua o texto.
O governo russo reconhece ainda que este cenário deve levar a maior pressão política, econômica e militar contra o país.
Por outro lado, o documento afirma também que a Rússia "está interessada na construção de uma parceria de pleno direito com os EUA baseada em interesses comuns, incluindo os econômicos, tendo em vista a influência fundamental das relações russo-americanas sobre a situação internacional como um todo".
As relações entre a Rússia e o Ocidente ficaram estremecidas após as forças russas anexarem a península ucraniana da Crimeia, em março de 2014. A anexação foi represália aos protestos na Ucrânia que levaram o presidente do país, pró-Moscou, a fugir.
O documento russo afirma que os EUA e a União Europeia apoiaram "um golpe de Estado anticonstitucional" na Ucrânia, que levou à divisão da sociedade e a um conflito militar.
Desde a anexação, os países do Ocidente acusam a Rússia de ajudar os insurgentes no leste ucraniano. Moscou nega.
Os EUA e a UE impuseram ainda amplas sanções contra companhias e cidadãos russos. Moscou reagiu restringindo entrada de comida e outros produtos da UE.
O relatório também critica a Otan, aliança atlântica que, segundo Moscou, serviu para os EUA expandirem sua rede de laboratórios militares biológicos para países vizinhos.
O texto, que serve de base para planejar estratégias de segurança nacional, não menciona a Síria, onde desde 30 de setembro a Força Aérea russa lança bombardeios contra os rebeldes que se opõem ao governo do ditador Bashar al-Assad, aliado de Moscou.