Folha de S. Paulo


Peru pode tornar-se o próximo país latino-americano a rumar à direita

Com os três principais candidatos identificados com a direita, o Peru pode ser o próximo país da América Latina a embarcar na onda antigovernos de esquerda que se insinua na região.

Os peruanos irão às urnas em abril para decidir quem será o sucessor de Ollanta Humala, um nacionalista de esquerda que migrou para o centro após assumir, em 2011.

Hoje, por conta de acusações de corrupção e pela queda do desempenho econômico do país após a desvalorização das commodities –o Peru é um grande exportador de minérios–, Humala tem apenas 16% de popularidade.

Janine Costa - 29.dez.2015/Reuters
Peruvian presidential candidate Keiko Fujimori smiles during a news conference about next year's elections at her home in Lima, December 29, 2015. REUTERS/Janine Costa ORG XMIT: LIM106
Keiko Fujimori fala a jornalistas sobre as eleições de abril, na qual concorrerá à Presidência

Por enquanto, as pesquisas indicam uma clara liderança da candidata Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), hoje preso após ser condenado por crimes de lesa-humanidade e corrupção durante a sua gestão.

Segundo pesquisa do instituto Ipsos divulgada na última semana, Keiko está adiante na preferência do eleitorado, com 33% das intenções de voto, seguida de longe pelo ex-ministro de economia Pedro Pablo Kuczynski, com 16%, e pelo empresário Cesar Acuña, com 13% –única cara nova no pleito, que ainda conta com o ex-presidente Alan García, com apenas 8% dos votos.

Se nenhum dos candidatos atingir 50%, haverá segundo turno, em junho.

"O Peru sempre teve uma esquerda muito fraca, que se debilitou ainda mais por conta da violência promovida pelo [grupo guerrilheiro] Sendero Luminoso. Hoje isso se mostra mais pronunciado", diz à Folha o professor de Harvard Steve Levitsky, especialista em Peru.

O estudioso, porém, chama a atenção para o fato de ser também uma tradição no Peru que o eleitorado seja muito antigovernista, em qualquer situação. Os presidentes mais recentes, Alan García e Alejandro Toledo, governaram com média muito baixa de popularidade.

"Não vejo um pensamento específico de direita nascendo entre o eleitorado latino-americano. Não há evidências de que as pessoas queiram agora uma política econômica de direita. Acho que o voto na oposição, que ocorreu na Argentina e na Venezuela e que deve ser uma tendência nas próximas eleições na região, são um voto antioficialista, um voto que evidencia o desgaste de projetos políticos há muito tempo no poder, caso do kirchnerismo e do chavismo", diz Levitsky.

FUJIMORISMO

Em sua segunda eleição como candidata, Keiko Fujimori, 40, apresenta uma versão mais moderada do fujimorismo. Apesar de se declarar seguidora das políticas de livre mercado do pai, faz críticas a seu governo sobre os casos de corrupção e de abusos em direitos humanos.

"É um desafio para ela, pois tem de se distanciar do legado negativo de Fujimori, mas ainda assim precisa mostrar-se identificada com as coisas que eleitores creem que ele fez bem, como estabilizar a economia e combater o Sendero Luminoso", afirma Levitsky.

Luis Camacho - 25.out.2013/Xinhua
 LIMA, octubre 25, 2013 (Xinhua) -- El expresidente peruano Alberto Fujimori Fujimori, reacciona durante una audiencia del juicio en su contra en las instalaciones de la sede de la Dirección de Operaciones Especiales de la Policía Nacional de Perú (DIROES), en el distrito de Ate Vitarte, departamento de Lima, Perú, el 25 de octubre de 2013. El Juzgado Supremo de Instrucción, escuchó a la defensa del expresidente Alberto Fujimori, que solicita cumplir su pena carcelaria bajo arresto domiciliario, según la prensa local. (Xinhua/Luis Camacho) (lc) (rt) (sp)
O ex-presidente Alberto Fujimori durante audiência após pedir para cumprir prisão domiciliar

Segundo as pesquisas, o principal eleitorado do fujimorismo continua sendo composto por trabalhadores de classe média baixa, urbana e rural.

"É comum que se explique o apoio que o fujimorismo ainda tem entre os mais pobres por conta de ele ter sido um populista, mas é preciso dizer também que ele foi um dos poucos presidentes que realmente chegaram aos lugares mais distantes do país e que, bem ou mal, cumpriram com o que prometeram levar a eles", diz o analista político David Rivera.

Keiko, que estudou nos Estados Unidos e é casada com um americano, foi a primeira-dama da gestão Fujimori após o divórcio dos pais, quando tinha apenas 19 anos. Um de seus feitos que rendem popularidade foi ter administrado um programa de criação de orfanatos e clínicas pediátricas pelo país.

Em 2011, Keiko perdeu a eleição num apertado segundo turno para o atual presidente peruano, Ollanta Humala (51% a 48%).

Entre suas principais promessas de campanha está um grande aporte de investimentos públicos em obras de infraestrutura como forma de garantir o retorno do país ao rumo do crescimento.


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