Folha de S. Paulo


Acordo de voos comerciais entre EUA e Cuba mantém proibição a turismo

Estados Unidos e Cuba serão interligados por até 110 voos diários como parte do acordo de aviação concluído nesta semana em Washington, em mais um passo na reaproximação entre os dois países.

A estimativa é que voos regulares tenham início dentro de três a seis meses.

O acordo foi confirmado pelo Departamento de Estado dos EUA nesta quinta (17), exatamente um ano após o histórico anúncio do presidente Barack Obama e do ditador Raúl Castro sobre a decisão de reatar os laços diplomáticos após mais de 50 anos de hostilidades.

Dos possíveis 110 voos, 20 ficarão no aeroporto da capital, Havana, e os outros 90 serão divididos entre nove outros aeroportos.

Embora seja o mais importante desdobramento econômico desde o anúncio, o pacto não derruba a proibição a cidadãos americanos de viajarem a Cuba a turismo.

De acordo com a legislação atual, americanos podem visitar Cuba caso se enquadrem em alguma das 12 categorias sancionadas pelo presidente Obama no ano passado, que incluem reuniões familiares e atividades como jornalismo, pesquisa, educação e projetos humanitários.

A agência Reuters estima que o número de americanos que visitaram a ilha cresceu 70% desde o início da reaproximação diplomática.

A maioria das principais companhias aéreas dos EUA já demonstrou interesse em oferecer voos para Cuba assim que for possível.

Segundo o jornal "The Washington Post", a United informou que inicialmente seus voos para Havana deverão partir das cidades de Houston e Newark, enquanto a American Airlines pretende usar o terminal de Miami como seu ponto de partida.

Para Cathleen Cimino-Isaacs, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia, o impacto econômico do restabelecimento dos voos comerciais deve ser positivo, mas não no curto prazo.

Segundo ela, levará um tempo até que o clima político nos EUA permita laços comerciais significativos.

"Sem a retirada do grande elefante da sala, que é o embargo americano a Cuba, dificilmente haverá muitos avanços", disse à Folha.

ONDE FICAM OS PROVÁVEIS AEROPORTOS

OBAMA 'BEM-VINDO'

Em mensagem para marcar o aniversário da reaproximação, o presidente Obama ressaltou os progressos feitos no último ano, como a reabertura das embaixadas, facilitação do comércio e medidas para aumentar a troca de informações.

Obama também lembrou, porém, que a normalização é um longo caminho.

"Continuamos a ter nossas diferenças com o governo cubano, mas levantamos esses temas diretamente e sempre defendemos os direitos humanos e os valores universais que apoiamos ao redor do mundo", disse o presidente, que voltou a pedir ao Congresso a suspensão do embargo a Cuba.

Em entrevista publicada nesta semana, Obama revelou que deseja visitar Cuba no próximo ano, mas somente se puder encontrar opositores do regime.

Em resposta ao presidente, a diplomata Josefina Vidal, diretora do departamento de Estados Unidos no ministério de Relações Exteriores cubano, disse que Obama "será bem-vindo", desde que não interfira em assuntos domésticos da ilha.

"Cuba não irá negociar assuntos que são inerentes a seu sistema interno em troca de uma melhora na normalização das relações com os Estados Unidos", disse Vidal.

Num balanço do primeiro ano de reaproximação, a diplomata cubana disse que a parte econômica deixou muito a desejar.

Segundo Vidal, houve importantes progressos na cooperação política e diplomática, mas os resultados econômicos são praticamente inexistentes.

Entre eles estão acordos de empresas de telefonia americanas para chamadas remotas em Cuba e o serviço de aluguel de imóveis Airbnb.

Crítico da aproximação, José Azel, especialista em economia cubana da Universidade de Miami, considera todo o esforço em vão enquanto o regime cubano não realizar uma abertura política.

"O único beneficiário é o governo cubano, que tem participação em qualquer acordo comercial e só permite um envolvimento dos cidadãos na economia em atividades marginais", afirmou Azel à Folha.


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