Folha de S. Paulo


EUA acusarão comandante da Guarda Nacional venezuelana por narcotráfico

Nas redes sociais, Néstor Reverol, comandante da Guarda Nacional Bolivariana, se vangloria da apreensão de grandes cargas de cocaína em operações contra os cartéis das drogas na Venezuela.

Reverol, um dos favoritos do presidente Hugo Chávez, morto em 2013, antes comandava a agência de combate às drogas venezuelana, e também foi ministro do Interior.

Carlos Garcia Rawlins - 11.jan.2010/Reuters
O comandante da Guarda Nacional Bolivariana, Néstor Reverol, em 2010; ele é acusado de tráfico
O comandante da Guarda Nacional Bolivariana, Néstor Reverol, em 2010; ele é acusado de tráfico

Mas promotores americanos afirmam que ele recebia pagamentos de traficantes de drogas, informando-os sobre buscas policiais e até mesmo bloqueando investigações, disse uma pessoa informada sobre o processo nos EUA contra ele na terça-feira (15).

As acusações contra Reverol, e contra Edilberto Molina, outro antigo dirigente da agência venezuelana de combate às drogas, serão em breve anunciadas pelo Tribunal Federal do Brooklyn, de acordo com o membro da investigação.

O indiciamento será o mais recente na série de acusações de promotores norte-americanos contra venezuelanos poderosos que segundo eles desempenhavam papéis importantes no comércio de drogas ilícitas.

Os investigadores acreditam que a corrupção se estenda aos mais altos escalões do governo da Venezuela e que a seja difícil distinguir entre o governo e o submundo, em certos casos.

Alguns meses atrás, as autoridades norte-americanas anunciaram estar investigando Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional venezuelana e considerado como a segunda pessoa mais poderosa do país.

O inquérito envolvia acusações de que Cabello esteve envolvido no envio de drogas aos Estados Unidos. Ele negou com veemência qualquer irregularidade ou conexão com traficantes.

E em novembro, promotores federais em Manhattan acusaram dois sobrinhos de Cilia Flores, a mulher do presidente Nicolás Maduro, de tentar transportar 800 quilos de cocaína aos EUA. Os dois foram presos no Haiti.

Segundo pessoas informadas sobre o caso, que pediram que seus nomes não fossem revelados dada a delicadeza do processo, Reverol recebeu pagamentos de quadrilhas, e alertava regularmente os traficantes sobre os lugares e datas de batidas policiais.

Reverol pessoalmente "suspendeu ou prejudicou investigações" sobre traficantes de drogas, se aproveitando do poder de seus cargos para permitir que estes operassem com impunidade fora da Venezuela, disse a fonte.

Os investigadores dos EUA há muito acusam o governo chavista de corrupção e de envolvimento com o tráfico de drogas.

Maduro nega veementemente as acusações de envolvimento de funcionários de seu governo no tráfico de drogas e diz que elas são parte de um complô norte-americano para solapar seu governo.

Não foi possível contatar Reverol e Molina para comentários. Um membro do Ministério do Interior venezuelano disse não ter informações sobre as acusações contra os dois funcionários.

COMANDANTE

Reverol comandou o Serviço Nacional de Combate às Drogas, cujas atribuições são semelhantes à Agência de Combate às Drogas (DEA) norte-americana, por muitos anos.

Ele foi promovido a ministro do Interior por Chávez em outubro de 2012, e substituído no posto no ano seguinte depois que Chávez morreu e foi sucedido por Maduro.

Reverol se tornou comandante da Guarda Nacional em outubro do ano passado. Uma conta do Twitter em seu nome se vangloriou nos últimos meses de operações da Guarda Nacional contra os traficantes.

Uma mensagem de 10 de dezembro mostrava fotos de guardas nacionais usando um guindaste para localizar uma carga clandestina de cocaína na caçamba de um caminhão. "Detectado por nossa unidade canina", o post afirma.

Apreensão

Apreensão 2

A Guarda Nacional Bolivariana tem a responsabilidade de proteger as fronteiras do país, ainda que seus membros, de acordo com pessoas que vivem perto da fronteira, sejam em geral vistos como envolvidos em toda espécie de contrabando, especialmente através da longa fronteira com a Colômbia.

O contrabando pode incluir exportações ilegais de gasolina venezuelana barata, alimentos subsidiados pelo governo como o leite em pó e a farinha de milho, e drogas.

Funcionários do governo norte-americano afirmam que boa parte da cocaína que deixa a Colômbia passa pela Venezuela.

Muitos embarques de drogas saem do país em aviões que decolam de pistas clandestinas na Venezuela e chegam aos Estados Unidos via América Central e Caribe.

O processo federal pode criar novos embaraços para os esquerdistas venezuelanos, que prometem levar adiante o legado de Chávez.

Membros de seu Partido Socialista Unido sofreram derrota esmagadora na eleição legislativa de 6 de dezembro, que deu à oposição uma maioria de dois terços das cadeiras da Assembleia.

A economia da Venezuela, que deve se contrair em 10% este ano, foi a causa primordial da derrota. Mas a oposição também acusa o governo de corrupção endêmica, depois de 17 anos no poder.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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