Folha de S. Paulo


Nomeação de juízes gera primeira crise de Macri

Nem completou uma semana na Casa Rosada, sede do governo argentino, Mauricio Macri já entrou em sua primeira polêmica, ao nomear por decreto dois juízes para a Suprema Corte.

O dispositivo, embora previsto na Constituição, foi usado uma única vez, segundo disse à Folha o constitucionalista Daniel Sabsay, professor da Universidade de Buenos Aires -em 1862, pelo presidente Bartolomeu Mitre.

A iniciativa gerou rejeição no próprio bloco que apoiou a eleição de Macri, entre juristas e na opinião pública.

"É o primeiro e grave tropeço do presidente. Nomear juízes por decreto para a Corte é um terrível retrocesso institucional", afirmou a ex-candidata a presidente Margarita Stolbizer, do partido GEN, com o qual Macri conta para compor a base no Congresso.

Juan Ignacio Roncoron - 10.dez.2015/Efe
O novo presidente da Argentina, Mauricio Macri, durante o juramento no Congresso no dia da posse (10)
O novo presidente da Argentina, Mauricio Macri, durante o juramento no Congresso no dia da posse (10)

Membros da União Cívica Radical (UCR), que integrou a coligação que elegeu Macri, também fizeram críticas.

"Não encontro razões para que seja por meio de um decreto e não por uma convocatória ao Senado de sessões extraordinárias", disse o senador radical Julio Cobos.

A indicação de Horacio Rosatti e Carlos Rosencrantz para a Suprema Corte deveria, por tradição, ser aprovada por dois terços do Senado.

O PRO, partido de Macri, porém, tem minoria na Casa, que é comandada por peronistas e kirchneristas.

Para contornar o problema, o novo presidente lançou mão de um instrumento que permite a nomeação temporária de empregados do Estado durante o período de recesso -o Congresso só volta a se reunir em 1º de março.

Os dois juízes terão mandato até novembro de 2016, período em que o governo pretende negociar sua permanência na função.

O deputado Sergio Massa, ex-candidato a presidente, com quem Macri espera contar para fazer frente aos kirchneristas na Câmara, também rejeitou a iniciativa.

"O que aconteceria se isso tivesse ocorrido no governo anterior [de Cristina Kirchner]?", provocou Massa. "Os nomes escolhidos são impecáveis, mas a forma como foram indicados é horrível".

A principal crítica contra Macri é que ele foi eleito prometendo fortalecer as instituições e não interferir no Poder Judiciário.

"É uma medida autoritária inédita na democracia. Deve ser anulada", protestou no Twitter o Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel.

Aliado de Macri na UCR, o senador Ernesto Sanz justificou a medida dizendo que o presidente ainda não construiu os consensos necessários no Parlamento para votar questões como essa e que reocupar a Suprema Corte –cuja formação é de cinco integrantes, mas atualmente só tem três titulares– era urgente. "Macri tem o direito de usar os instrumentos constitucionais."


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