Folha de S. Paulo


Colombianos esperam acordo com Farc com misto de receio e entusiasmo

Ernesto Mastrascusa/Efe
Humberto de la Calle, do governo colombiano (esq.), e 'Iván Márquez', das Farc, se cumprimentam em Cuba
Humberto de la Calle, do governo colombiano (esq.), e 'Iván Márquez' (Farc), se cumprimentam em Cuba

Os colombianos combinam entusiasmo e receio com relação ao acordo de paz com as Farc, previsto para 23 de março de 2016.

Nesta terça-feira (15), uma das etapas mais difíceis para alcançar o pacto foi alcançada com a assinatura de um acordo para a reparação às vítimas do conflito.

Se pesquisas da semana passada indicam 70% de apoio às negociações e 61% a favor do plebiscito para referendar os pontos do acerto, 77% não querem que os ex-guerrilheiros possam entrar na política e quase 80% não aceitam que tenham anistias e indultos (números do instituto Cifras y Conceptos e da revista "Semana").

Nas ruas de Bogotá, iluminadas com as luzes de Natal e movimentadas devido ao período de compras, podem-se escutar os argumentos a favor e contrários ao acordo.

"Ninguém pode dizer que é contra a paz, pois essa guerra vem destruindo o país, mas também não dá pra aceitar criminosos sentados no Congresso", diz Antonio Sepúlveda, 32, comerciante, diante de sua loja de decoração, no centro.

Editoria de Arte/Folhapress

"A paz tem um custo, não é fácil. Se fosse, não estaríamos em guerra por mais de 50 anos. Temos de pagar esse preço e aceitar termos que parecem desagradáveis. Apoio o acordo, quero poder viajar e não quero que olhem para o meu passaporte no exterior como sinônimo de perigo", diz Ana Pérez, 42, que passeava com os filhos no parque La 93, área nobre da cidade.

Outra preocupação recorrente dos colombianos é com o custo do chamado período de "pós-conflito", no qual serão necessários investimentos do Estado para recuperar áreas antes tomadas pela guerrilha e realocar as 6,4 milhões de pessoas que abandonaram suas casas para fugir do conflito.

A população de "desplazados" (deslocados) da Colômbia é a maior do mundo entre países que não estão em guerra. A maioria deles vive nas periferias das grandes cidades, como Bogotá.

"Um país em paz é um país que traz investimentos. Mesmo que tenhamos que gastar agora, os frutos são uma Colômbia de economia mais próspera", diz o empresário Enrique Ortuño, que almoçava no bairro de La Merced.

Segundo o governo, espera-se, em médio prazo, um crescimento adicional do PIB de até três pontos percentuais caso o conflito seja mesmo superado. A paz significaria a recuperação de territórios e de infraestrutura hoje nas mãos das Farc.

A Colômbia cresceu 2,5% em 2015 e é dos poucos países da América do Sul com boas perspectivas de desempenho macroeconômico para 2016, com previsão de um crescimento entre 3,5% e 4% e taxa de desemprego e inflação estáveis.

Caso o acordo tenha sucesso, o PIB poderá crescer então entre 6,5% e 7% a partir de 2017.


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