Folha de S. Paulo


Cientistas veem provável texto de acordo climático como insuficiente

Sob críticas de cientistas em relação ao seu provável conteúdo, a COP21 (Conferência do Clima) tenta neste sábado (12), enfim, chegar a um acordo internacional depois de 12 dias de negociação em Paris.

Para especialistas que acompanham o encontro, o texto negociado até sexta (11), quando a reunião deveria ter terminado, é bem ambicioso em termos de alvos para o aumento tolerável de temperatura –com o reconhecimento da importância de se manter no limite de 1,5ºC, mas não delineia caminhos claros para atingir esse patamar.

Um documento final deveria ser apresentado às 9h (6h em Brasília) deste sábado para ser avaliado pelos países. A expectativa é que seu conteúdo mantenha a análise de metas a cada cinco anos, ponto considerado positivo por líderes políticos.

O impasse sobre o financiamento dos mais pobres continuava até a noite desta sexta: os ricos resistiam à menção de que terão de montar um fundo de US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020. É certo que o cumprimento das metas de cada país para redução de poluentes, as chamadas INDCs, não serão obrigatórias.

O presidente da conferência, o chanceler francês Laurent Fabius, busca consenso para evitar que a COP21 repita o fracasso de Copenhague, em 2009. O chamado Acordo de Paris seria o primeiro climático desde o Protocolo do Kyoto (1997).

Greenpeace/Reuters
Ativistas do Greenpeace pintam de amarelo as ruas perto do Arco do Triunfo, para tentar simbolizar o Sol
Ativistas do Greenpeace pintam de amarelo as ruas perto do Arco do Triunfo, para tentar simbolizar o Sol

Para o pesquisador Kevin Anderson, do Centro Tyndall para Pesquisa de Mudança do Clima (Reino Unido), os termos em negociação ficam "entre o perigoso e o mortal".

"O texto pode ser prático para quem está aqui, brancos e ricos do hemisfério Norte. Para os tipicamente não brancos no hemisfério Sul, o presente texto está em algum ponto entre o perigoso e o mortal", disse, sob aplausos.

Na mesa com Anderson estavam Hans Joachim Schellnhuber, do Instituto Potsdam; Steffen Kallbekken, do Centro para Políticas Internacionais de Clima e Energia; Johan Rockström, do Centro de Resiliência de Estocolmo; e Jori Rogelj, do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicada.

Houve consenso entre eles de que foi um avanço incluir a referência ao alvo de 1,5ºC de aquecimento da atmosfera, partindo de um patamar bem abaixo de 2ºC.

"Com 1,5ºC podemos estar bem certos de que não iremos provocar um derretimento irreversível da calota de gelo da Groenlândia, o que pode acontecer se ultrapassarmos 2ºC", disse Schellnhuber.

O problema é que, para ter 1,5ºC, as emissões mundiais de gases do efeito estufa têm de alcançar um pico em 2020 e em seguida cair a zero até 2050, algo que a soma das atuais INDCs de cada país não permite atingir.

Desapareceram no texto quaisquer referências à descarbonização e não havia expectativa de que isso voltasse ao documento. Na versão em discussão, só de fala de pico de carbono "tão cedo quanto possível" e de "empreender reduções rápidas depois disso para alcançar neutralidade em emissões de gases do efeito estufa na segunda metade do século".

Para os pesquisadores, vai ficando claro que o Acordo de Paris dependerá de modo crucial de emissões negativas para não estourar o orçamento de carbono que lhe resta. Ou seja, de tecnologias ainda não comprovadas para retirar CO2 da atmosfera.

A ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, estava otimista. Disse que as divergências na reta final eram esperadas.

"Não adianta ter um acordo em que os grandes emissores não estejam a bordo. Não acredito em um acordo em Paris sem os Estados Unidos, a China, a União Europeia a bordo. Então tem de entender as condições que eles colocam."


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