Folha de S. Paulo


Ministro confirma que Argentina voltou a negociar com 'fundos abutres'

Será a área econômica um dos maiores desafios do novo presidente da Argentina, Mauricio Macri, que tomou posse nesta quinta (10), em Buenos Aires.

Fora do mercado internacional de crédito e com as exportações em queda, o país vive uma severa escassez de dólares, o que estancou a atividade econômica.

O aumento dos gastos públicos, sobretudo nesta última etapa do governo de Cristina Kirchner, teve como efeito colateral a aceleração da inflação, estimada em cerca de 25% ao ano.

Macri nomeou o economista Alfonso Prat-Gay para o Ministério da Fazenda. Ex-presidente do Banco Central nas gestões de Eduardo Duhalde e Néstor Kirchner, entre 2002 e 2004, ele confirmou a jornalistas brasileiros, entre eles a Folha, que a Argentina está negociando com os credores externos.

"Teremos uma negociação dura adiante, mas a maneira de encará-la é sentando-se para negociar, e não se fingindo de distraído", disse Prat-Gay, na saída da posse de Macri, no Congresso.

Estes credores ganharam na Justiça dos EUA o direito de cobrar juros da dívida argentina que entrou em moratória em 2001. Cristina negou-se a negociar com os investidores, classificando-os como "abutres". O impasse levou o país a uma segunda moratória, dessa vez técnica, em 2014 e exilou o país do mercado de crédito.

Prat-Gay confirmou que enviou emissários a Nova York antes mesmo da posse de Macri. "Fomos simplesmente dizer 'aqui estamos'. Faz tempo que o mediador não tinha nenhuma notícia de um funcionário [argentino]. Nos colocamos à disposição para começar a dialogar", afirmou.

O governo de Cristina estimava em US$ 20 bilhões o valor devido a estes credores. Prat-Gay disse esperar que a negociação seja concluída no curto prazo, mas evitou adiantar propostas. "Nos sentamos para discutir", disse. "Acreditamos que dialogar não é outra coisa senão dialogar".

Sobre o Brasil, Prat-Gay afirmou, após encontrar-se com autoridades na chancelaria, que a Argentina teria com o vizinho uma relação estratégica. "[Com o Brasil] teremos uma relação inteligente. Teremos uma relação com o Brasil, e com o Brasil vamos sair ao resto do mundo", afirmou.

Para a economia interna, o ministro descartou medidas imediatas. O governo prepara um pacote de leis econômicas para apresentar ao Congresso, mas Prat-Gay disse que elas ficarão para março, após o recesso parlamentar. "Vamos tomar medidas econômicas ao seu tempo", afirmou.

O ministro da Agricultura, Ricardo Buryaille, que integra a força-tarefa econômica de Macri, disse à Folha que o governo deverá anunciar nos próximos dias o fim dos impostos sobre as exportações de milho e trigo.

"Com exceção da soja, que vamos manter retenções de 30% [do faturamento], vamos retirá-las todas. É um péssimo imposto para a produção".

O governo Macri espera, com isso, vender o estoque de grãos que foi estocado pelos fazendeiros à espera da troca de governo e, com isso, obter dólares com exportações no curto prazo.


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