Folha de S. Paulo


Brasil terá responsabilidade de destravar Conferência do Clima

A menos de três dias do fim da COP21 (Conferência do Clima da ONU), as negociações não avançam, e o cenário é imprevisível sobre a chance de acordo entre as 195 delegações presentes em Paris.

Está nas mãos da diplomacia brasileira costurar a solução para um dos temas mais sensíveis –a diferenciação do papel de cada país no combate ao aquecimento global, incluindo o socorro financeiro aos mais pobres.

Nos bastidores da conferência já se admite a possibilidade de o documento final ser aprovado somente no fim de semana, extrapolando o calendário oficial de encerrá-la na noite de sexta (11).

Jacky Naegelen/Reuters
A ministra brasileira Izabella Teixeira com o representante chinês Xie Zhenhua na COP21, em Paris
A ministra brasileira Izabella Teixeira com o representante chinês Xie Zhenhua na COP21, em Paris

O Brasil assumiu um papel de destaque e responsabilidade depois que a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) foi indicada pelo comando da COP21 a atuar como "facilitadora", designada para intermediar a busca por um consenso. Ela dirige um dos quatro grupos de trabalho criados após uma semana de discussão técnica.

Por isso o presidente americano, Barack Obama, telefonou para a presidente Dilma Rousseff na segunda (7). Em nota, o Palácio do Planalto informou que ambos discutiram o desejo de buscar "um acordo ambicioso". Na prática, Obama tenta destravar com Dilma as conversas.

Nos bastidores da delegação brasileira está o ex-chanceler Luiz Alberto Figueiredo, atual embaixador nos Estados Unidos. Ele foi deslocado a Paris a pedido do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em razão de sua experiência em negociar o tema.

Figueiredo atua com discrição como um dos principais articuladores das emperradas discussões que tentam evitar que Paris se transforme no fracasso da conferência de 2009, em Copenhague.

O governo americano, apoiado por outras potências, exige um texto final que abra caminho para que não só os ricos deem sua parcela financeira mas também as nações em desenvolvimento.

Os desenvolvidos prometeram na capital dinamarquesa um fundo de U$S 100 bilhões até 2020. Aliás, é controverso o número de quanto realmente já foi arrecado: os ricos falam em US$ 62 bilhões, montante não considerado oficial pelos demais.

Os EUA só aceitam colocar um número novo à mesa se houver um dispositivo de contribuição de outros países, nem que seja voluntário.

Os dois lados escondem as cartas: os emergentes topam sugestão de doação espontânea, mas querem saber antes o valor exato do novo compromisso financeiro dos ricos para depois de 2020.

"Está claro que não devemos criar obrigações legais para países em desenvolvimento. É hora de termos o equilíbrio sobre o que queremos", afirmou a ministra Izabella Teixeira nesta terça (8).

Outro ponto distante de consenso diz respeito a um prazo determinado de revisão de metas de redução de poluentes, as chamadas INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas, na sigla em inglês).

Alguns países, como Brasil e EUA, defendem um período de cinco anos para um balanço. O ponto chave é a partir de quando isso ocorreria –antes ou depois de 2020.

Além disso, segundo um negociador, alguns governos querem deixar claro no texto final que uma eventual análise das metas não levará a uma possível alteração das INDCs mesmo que estejam distantes do cumprimento.


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