A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva disse na COP21 que a crise política e econômica do Brasil estão colocando em segundo plano os temas ambientais estratégicos em debate em Paris.
Marina criticou a falta de continuidade e aprofundamento de políticas criadas na sua gestão como ministra, como o PPCDAM (Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento). Para ela, o desmatamento aumentou 16% num momento "em que jamais isso poderia ter acontecido", justamente quando o país assumiu o compromisso de reduzi-lo.
Ressaltou que a taxa de destruição deu um salto num momento em que a economia brasileira está em recessão, sendo que a redução de mais de 80% ocorrida anteriormente, de 2005 para cá, coincidiu com taxas de aumento do PIB de 4%-5%.
Marina disse que o governo precisa ter "tolerância zero" com o desmate ilegal: "O que é ilegal não tem como ter prazo de validade", afirmou, referindo-se à meta brasileira de zerar só em 2030 as derrubadas feitas contra a lei.
Danilo Verpa - 23.nov.2015/Folhapress |
Marina Silva participa de debate sobre economia de carbono em São Paulo |
"Esse dado está colocado desde sempre. Desde que se tem um governo de coalizão que não tem força de sustentação no Congresso, a agenda indígena, a agenda ambiental, a agenda de direitos humanos foi sempre colocada como moeda de troca."
IMPEACHMENT
A ex-ministra do PT, hoje na Rede Sustentabilidade, afirmou que mantém sua posição contrária ao impeachment da presidente Dilma Rousseff —por ora: "A única novidade que se tem é que foi acolhido o pedido de impeachment. Nós vamos firmar nossa posição no processo. Ainda não há elementos suficientes para caracterizar o impeachment".
"Não sei o que vai acontecer daqui para a frente. Vamos agir com independência para firmar a nossa posição. Uma coisa eu sei: o que precisa é dar força para as investigações. Foi da Lava Jato que veio aquilo que é peremptório contra o Cunha e pelo qual ele deve ser afastado. Foi das investigações da Lava Jato que vieram os elementos que levaram à prisão do tesoureiro do PT [...] e do senador Delcídio."
Marina disse ainda dar mais importância para o processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE): "Há um processo no TSE que levanta a possibilidade de que o dinheiro do petróleo tenha sido usado para irrigar a campanha da presidente e do vice-presidente, portanto ambos são faces da mesma moeda. Eu não estou condenando a priori ninguém".
"Mas não podemos esquecer que neste momento o PT e o PMDB estão implicados porque produziram essa crise política, essa crise econômica. Nós temos o presidente Renan, do Senado, e o presidente Cunha igualmente implicados."
"O processo do TSE é muito importante, exatamente porque ele trata da questão na essência, não é apenas um processo político, que no meu entendimento começa de uma forma muito estranha, cheio de barganhas, num momento em que situação e oposição estavam blindando o presidente Cunha."
"Eu insisto: o processo correto é o que está no TSE. É um processo da Justiça, não vai ter ali uma ação política, onde se estarão tomando decisões, digamos assim, com base nas negociações políticas. Óbvio que o impeachment não é golpe, as pessoas que o apresentaram são juristas respeitáveis, defensores da democracia, não são golpistas. No entanto, o processo do TSE depende das investigações, e sobre essas eu não tenho qualquer tipo de ascensão, portanto me sinto isenta para defendê-lo."
A ex-candidata à Presidência negou que faça isso por interesse próprio: "Se for um processo bem célere [no TSE], se disserem que as eleições vão acontecer amanhã, eu sequer serei candidata. Eu acabei de me filiar na Rede, não teria um ano de filiação. [...] Eu quero que o Brasil seja passado a limpo, este não é o momento de se pensar em eleição, mas de pensar na nação."
"O Brasil até ontem pensava que estava no fundo do poço, agora parece que a gente está num poço sem fundo."
Sobre pergunta acerca da "divergência" manifestada na carta do vice-presidente Michel Temer (PMDB): "Divergência é um termo que se usa com muita brandura. Eu considero isso uma ruptura, mas uma ruptura que se oficializa, porque na prática ela já vem de muito tempo, pelo visto."