Folha de S. Paulo


Turquia vai se arrepender de ter derrubado avião da Rússia, diz Putin

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, voltou nesta quinta-feira (3) a aumentar o tom das declarações contra a Turquia ao dizer que o país vai se arrepender de ter derrubado um avião militar russo que fazia uma operação na Síria.

A interceptação, ocorrida há dez dias, acirrou os ânimos entre os dois países que estão em lados opostos no conflito no país árabe. Enquanto Moscou atua em apoio ao regime de Bashar al-Assad, os turcos defendem a saída do ditador.

Em discurso de prestação de contas no Parlamento, o líder russo ameaçou aplicar novas sanções aos turcos, chamou o governo turco de quadrilha e o acusou de cumplicidade com o terrorismo.

"Não nos esqueceremos jamais desta cumplicidade com os terroristas. Consideraremos sempre a traição como um dos piores atos e um dos mais vis. Que os que atiraram contra nossos pilotos pelas costas saibam disso."

Putin disse não entender os motivos da derrubada, em nova arremetida contra o presidente Recep Tayyip Erdogan. "Só Alá sabe. Parece que Alá decidiu castigar a quadrilha no poder na Turquia privando-a da razão e do senso comum."

Apesar do tom inflamado, o dirigente descartou uma retaliação militar, embora tenha advogado por manter a pressão sobre a economia turca. A Rússia já lançou sanções contra os setores agrícola, energético, turístico e de construção.

"Não vamos mostrar armas, mas se alguém pensa que eles vão se livrar de um crime de guerra tão vil com [proibição à importação de] tomates ou sanções no setor de obras públicas, enganam-se completamente."

Guerra de versões

PETRÓLEO

No discurso, o presidente russo voltou a citar a acusação de que a família de Erdogan seria a principal beneficiária do contrabando de petróleo da Síria e do Iraque extraído pelo Estado Islâmico.

"Nós sabemos quem na Turquia está enchendo os bolsos de dinheiro e permitindo que terroristas consigam dinheiro ao venderem petróleo roubado na Síria. Com este dinheiro os bandidos recrutam mercenários, compram armas e estrelam ataques terroristas cruéis contra nossos cidadãos, assim como cidadãos da França, do Líbano e do Mali."

As declarações são feitas depois que o Ministério da Defesa russo divulgou imagens do envio ilegal do petróleo sírio na quarta (2). Erdogan chamou as acusações de imorais e acusou a Rússia de também estar envolvida no contrabando.

"Temos provas. Vamos começar a revelá-las ao mundo", disse Erdogan, em referência aos negócios do empresário sírio-russo George Haswani.

Nesta quinta (3), o premiê turco, Ahmet Davutoglu, reagiu às declarações e acusou Putin de usar as mesmas táticas aplicadas durante a União Soviética (1917-1991).

"Durante a Guerra Fria existia a máquina de propaganda soviética, que todo o dia produzia uma série de mentiras. As características da era soviética emergem uma de cada vez. Ninguém acredita nas mentiras da propaganda soviética."

Apesar da tensão entre os dois países, o chanceler russo, Serguei Lavrov, se encontrará com seu colega turco, Mevlut Cavusoglu, na reunião da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, em Belgrado, na Sérvia.


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