Folha de S. Paulo


Macri anuncia equipe econômica ligada ao mercado na Argentina

Três dias após a eleição, o presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, anunciou nomes que têm a simpatia do mercado para os principais cargos no novo governo.

O gabinete econômico será chefiado pelo economista Alfonso Prat-Gay. O novo ministro da Fazenda e Finanças foi ex-presidente do Banco Central entre 2002 e 2004, sob os governos Eduardo Duhalde e Néstor Kirchner.

Raúl Ferrari/Xinhua
O presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, conversa com a imprensa na Quinta de Olivos
O presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, conversa com a imprensa na Quinta de Olivos

Tido como um dos responsáveis por tirar a Argentina da crise de 2001, Prat-Gay se autodefine como desenvolvimentista, perfil que Macri previa para o ministério.

Apesar disso, o novo guardião da Fazenda tem passagem pelo mercado financeiro. Estudou economia da Pensilvânia (EUA) e trabalhou no JP Morgan em Nova York antes de ingressar na carreira política argentina.

Nesta quarta (25), após reunião com Macri, o novo ministro disse que apresentará suas medidas assim que Macri assumir a Presidência, em 10 de dezembro. Dentre elas, estão o fim das restrições à compra de dólares e despesas em moeda estrangeira. "A promessa do presidente eleito é fazê-lo o antes possível", afirmou Prat-Gay.

O titular da Fazenda atuará com outros cinco ministros, formando a força-tarefa de Macri. Quatro deles foram anunciados nesta quarta.

O ex-presidente da Shell Argentina Juan José Aranguren será o ministro de Energia e Mineração. Ele deverá resolver a difícil equação de aumentar os investimentos no setor e reduzir o número de apagões, e ao mesmo tempo preservar os subsídios nas contas de luz e de gás.

Dois ex-ministros de Macri na cidade de Buenos Aires, Francisco Cabrera, e Guillermo Dietrich, assumirão as pastas de Produção e Transporte e Infraestrutura. Para a Agricultura, Macri chamou o ruralista da União Cívica Radical (UCR) Ricardo Buryaile. O tradicional partido de oposição ao peronismo ainda ficou responsável pelo plano de desenvolvimento do norte da Argentina.

O único nome da equipe econômica que não foi divulgado foi o do ministro do Trabalho, que deverá ser anunciado nos próximos dias.

É na área econômica onde pairam as principais dúvidas sobre a futura administração de Macri. O novo governo deverá anunciar em breve sua posição na negociação com os chamados "fundos abutres" —credores externos que cobram parte da dívida do calote argentino de 2001.

Só assim conseguirá recorrer a financiamento externo para recompor suas reservas em dólares, o que permitiria acabar com as restrições às moedas estrangeiras.

Embora Macri já tenha defendido no passado pagar o valor devido aos credores, o futuro chefe de gabinete argentino, Marcos Peña, evitou dar sinais sobre a posição atual do eleito.

"Vamos defender o interesse dos argentinos, mas acreditando que é possível resolver essa questão da maneira correta para poder gerar investimentos, trabalho e superar a pobreza".

BANCO CENTRAL

Peña confirmou que Macri insistirá em trocar o comando do Banco Central. Anunciou que pretende colocar no cargo o liberal Federico Sturzenegger, economista do Banco Ciudad (da capital).

A nomeação dele está pendente porque seria necessária a renúncia do kirchnerista Alejandro Vanoli, que tem mandato até ao menos setembro de 2016.

Se assumir o Banco Central, ele terá como herança uma baixa nas reservas cambiais. Embora o governo informe que há cerca de US$ 26 bilhões em caixa, economistas dizem que o valor disponível é a metade disso.

*

EQUIPE ECONÔMICA

ALFONSO PRAT-GAY
Fazenda e Finanças
Presidente do BC no início do governo Néstor Kirchner, participou da reorganização econômica na Argentina após a crise política de 2001

GUILLERMO DIETRICH
Transporte
Subsecretário de Transportes portenho e ex-empresário de concessionárias da Ford e da VW, planejou os corredores de ônibus da capital argentina

FRANCISCO CABRERA
Produção
Ministro de Desenvolvimento Econômico da capital, é ainda líder da Fundação Pensar, o centro de políticas públicas do PRO de Mauricio Macri

RICARDO BURYAILE
Agricultura
Deputado por Formosa, é um dos maiores pecuaristas do nordeste do país e foi vice-presidente das Confederações Rurais Argentinas

JUAN JOSÉ ARANGUREN
Energia e Mineração
Presidente da Shell Argentina de 2003 até março, provocou a ira de Néstor Kirchner ao aumentar combustíveis e não aderir à pressão do governo


Endereço da página:

Links no texto: