Folha de S. Paulo


Presidente eleito na Argentina usará Mercosul para pressionar Venezuela

Poucas horas depois de confirmada sua vitória, o presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, começou a dar indicações de como será sua política exterior.

Ele disse que pretende tirar o Mercosul do estágio de "congelamento" e classificou o Brasil como "principal sócio".

Um tema, porém, pode causar atrito entre os dois principais parceiros do bloco: o tratamento dado à Venezuela de Nicolás Maduro.

Em entrevista coletiva nesta segunda (23), Macri reafirmou a promessa de que vai propor ao Mercosul acionar a cláusula democrática contra o país, em razão dos políticos presos pelo governo Maduro.

O Brasil tem mantido silêncio sobre o caso da Venezuela.

Para acionar a cláusula democrática, que pode levar à suspensão do país do Mercosul, é necessário que a sanção seja aprovada por todos os sócios por unanimidade.

Nas palavras de Macri, o líder venezuelano age com "abuso e perseguição" contra seus opositores.

"É evidente que se deve aplicar essa cláusula, porque as denúncias são claras e contundentes. Não são uma invenção", disse. "Não tem a ver com o compromisso democrático que assumimos."

A mulher do venezuelano preso Leopoldo Lopez, Lilian Tintori, esteve neste domingo (22) em Buenos Aires, onde acompanhou a apuração na sede da coligação Mudemos, encabeçada por Macri.

A vitória do político na Argentina representa uma baixa na esquerda latino-americana, que congrega lideranças como o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa, além de Maduro.

Falando a jornalistas, Macri tentou minimizar contradições. "Insisto que nossa intenção é construir boas relações, previsíveis, com todas as nações latino-americanas", disse. "Tenho as melhores expectativas na relação com o Mercosul, mais além da questão da cláusula democrática, que acredito que procede no caso da Venezuela, pelos abusos na perseguição aos opositores e na [falta] de liberdade de expressão".

O argentino reiterou que sua primeira viagem oficial deverá ser a Brasília, mas ainda não há data definida.

Editoria de Arte/Folhapress
Mapa Argentina Segundo Turno votação
Mapa Argentina Segundo Turno votação

Os líderes do Mercosul têm encontro marcado para o dia 21, em Assunção. Estreando na cúpula, Macri pretende acelerar as negociações do acordo de livre comércio com a União Europeia e de aproximação com a Aliança do Pacífico.

O argentino ainda adiantou que proporá o cancelamento do acordo com o Irã, costurado pela presidente Cristina Kirchner em 2013. O relato oficial é que o tratado permitiria interrogar os suspeitos iranianos do ataque à bomba em Buenos Aires, em 1994.

Mas investigação do promotor Alberto Nisman, encontrado morto em janeiro em caso ainda sem solução, dizia que Cristina tentou encobrir suspeitos em troca de vantagens comerciais.


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