Folha de S. Paulo


Grupo abre fogo e faz reféns em hotel de Bamaco, capital do Mali

Um grupo de extremistas islâmicos abriu fogo na manhã desta sexta-feira (20) no hotel de luxo Radisson Blu, em pleno centro de Bamaco, capital do Mali. Eles mantiveram hóspedes e funcionários reféns por horas.

O ministério de Segurança do Mali afirmou que forças de segurança invadiram o hotel e acabaram com o cerco no início da tarde (no horário de Brasília).

Durante a invasão, liberaram cada um dos andares, segundo a agência de notícias Reuters, isolando os homens armados no sétimo andar. Testemunhas citadas pela agência relatam ter ouvido muitos disparos de dentro do prédio. Com a operação ainda em curso, membros das forças e paz da ONU encontraram 27 corpos no estabelecimento —12 no porão e 15 no segundo andar.

Mali

Três homens – dois malinenses e um francês– morreram durante o ataque, mas o número ainda deve subir.

O grupo hoteleiro Rezidor, que administra o hotel, disse em comunicado que 140 hóspedes e 30 funcionários foram feitos reféns pelo grupo. Depois, às 10h (de Brasília), a empresa divulgou um novo comunicado dizendo que 124 hóspedes e 13 funcionários continuavam dentro do hotel.

Segundo informações das agências, entre os reféns estão membros das companhias aéreas Turkish Airlines e Air France e ao menos sete chineses.

O ministro de Relações Exteriores da Bélgica, Didier Reynders, disse que quatro belgas estão registrados como hóspedes do hotel, mas não há confirmação de que estão entre os reféns.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores indiano, Vikas Swarup, publicou no Twitter que há ao menos 20 indianos hospedados no Radisson Blu. "Nosso embaixador está em contato contínuo com eles e supervisionando a situação", disse.

O Itamaraty informou que não há brasileiros entre os reféns. Segundo a embaixada, há 15 brasileiros vivendo no país.

A agência de notícias chinesa Xinhua afirmou ter contato com um dos chineses no local, que registrou a movimentação do lado de fora do prédio.

Vídeo da Xinhua

INVASÃO

Sebastien Riessec/AFP
Tropas cercam Hotel Radisson Blu, em Bamaco, Mali, que foi tomado por homens armados
Tropas cercam Hotel Radisson Blu, em Bamaco, Mali, que foi tomado por homens armados

As informações divulgadas pelas agências de notícias até o momento apontam que os sequestradores entraram no hotel às 7h (5h de Brasília) em um carro com placa diplomática e abriram fogo contra os seguranças do prédio. Ao menos quatro ficaram feridos, dois em estado grave.

O comandante militar Modibo Naman Traore disse que o grupo é formado por dez homens armados com granadas. Já a empresa administradora do hotel diz que dois homens tomaram o prédio.

Ainda segundo o militar, eles invadiram o hotel gritando a frase em árabe "allah akbar" (Deus é grande).

Fontes das forças de segurança citadas pelas agências de notícias atribuíram a ação a terroristas islâmicos. Até o momento, ninguém reivindicou a autoria e o governo não se pronunciou.

Os homens, segundo fontes citadas pela agência de notícias Reuters, passaram pelos quartos em cada um dos andares até chegar ao sétimo.

Do lado de fora do hotel, era possível ouvir disparos de armas automáticas. A região foi cercada pela polícia e tropas do Exército de Mali, com ajuda de soldados da ONU. O Pentágono informou que forças especiais dos EUA também ajudam no resgate dos reféns.

O hotel, que costuma abrigar estrangeiros, tem 190 quartos e fica em uma região da capital repleta de bancos, restaurantes e outros hotéis.

A Air France cancelou o voo 3852 de Paris para Bamaco previsto para esta sexta-feira por conta dos ataques.

O presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, encurtou uma viagem para uma cúpula regional no Chade para acompanhar a situação em Bamaco.

Antes de embarcar, ele afirmou que a situação no hotel é preocupante, mas não desesperadora. Em declarações ao canal France 24, Keita disse que já avisara do risco de um ataque terrorista em Mali. "Temos que ser humildes. Nada nem ninguém está completamente protegido do terrorismo", disse.

AÇÃO FRANCESA

Em 2012, vários grupos jihadistas vinculados à rede terrorista Al Qaeda tomaram controle de regiões no norte de Mali. Muitos foram expulsos graças a uma operação internacional militar lançada em janeiro de 2013 por iniciativa da França (o país africano era uma colônia francesa) e ainda em vigor.

O ataque ocorre um dia após o presidente francês, François Hollande, elogiar as tropas do país pelo combate bem-sucedido das tropas islâmicas no país africano. "A França está liderando essa guerra com suas Forças Armadas, seus soldados, sua coragem. Ela precisa levar adiante essa guerra com [a ajuda de] seus aliados, seus parceiros, dando a nós todos os recursos disponíveis, como nós fizemos em Mali e como nós continuaremos a fazer no Iraque e na Síria", disse o presidente, em referência à reação francesa aos atentados em Paris no último dia 13.

Hollande disse nesta sexta-feira que fará todo o possível com os meios disponíveis para ajudar na libertação dos reféns. O país vai enviar 40 agentes do grupo de elite da polícia treinado para agir em situações como essas, além de dez especialistas forenses.

O presidente pediu ainda que os cidadãos franceses em Bamaco entrem em contato com a Embaixada da França no Mali para proteção.


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