Folha de S. Paulo


Assustados, judeus franceses dizem que pretendem ir para Israel

"A França acabou para os judeus." Essa é a opinião de Raphael Marciano, funcionário de um restaurante na rue des Rosiers, que reúne o comércio judeu de Paris, na região mais turística da cidade.

Ele se prepara para abandonar suas raízes parisienses e partir para Israel no mês que vem. A decisão, que Marciano justifica pela escalada da ameaça terrorista, é partilhada na comunidade francesa judaica, uma das maiores do mundo, com cerca de meio milhão de pessoas.

Cerca de 40 judeus franceses desembarcaram em Tel Aviv nesta segunda (16), segundo uma agência que auxilia o processo de imigração. É o primeiro grupo que parte após os ataques de sexta (13).

O comerciante Raphael Murciano, quase homônimo do funcionário do restaurante e dono de padaria, disse que nem todos podem sair. "Quem já tem negócio instalado aqui, como eu, não consegue ir tão facilmente."

Joana Cunha/Folhapress
Raphael Marciano, funcionário de restaurante em Paris
Raphael Marciano, funcionário de restaurante em Paris

AMEAÇAS

A mídia francesa chegou a anunciar nos últimos dias que a casa de shows Bataclan, onde 89 pessoas foram assassinadas, fora escolhida por ter donos judeus –eles, porém, já a tinham vendido.

Em outras ocasiões recentes, porém, judeus foram alvo de ataques extremistas.

Em janeiro, um mercado kosher em Paris foi alvo nos desdobramentos da chacina no "Charlie Hebdo". Em 2012, em Toulouse, três crianças e um adultos foram mortos em uma escola judaica em um ataque por um homem que dizia ser da Al Qaeda.

Desde então, instituições judaicas reforçaram a segurança e a onda de imigração ganhou força. Quase 10 mil judeus franceses devem ir para Israel neste ano, superando o recorde de 2014.

Para Sylvie Adler, de uma associação da comunidade judaica, os ataques de sexta podem reforçar a ideia de que todos estão vulneráveis, não só os judeus. "Quem sabe isso possa ajudar a melhorar a segurança para todos?"

Nesta quarta, um professor de uma escola judaica em Marselha (sul da França) foi ferido a faca por três pessoas. Ele não corre risco de vida.


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