Folha de S. Paulo


Bairro de maioria islâmica em Bruxelas se torna alvo de buscas

Yves Herman/Reuters
People shop at a market in the neighbourhood of Molenbeek, where Belgian police staged a raid following the attacks in Paris, at Brussels, Belgium November 15, 2015. Belgian authorities say two of the gunmen who staged the deadly assaults on Paris on Friday were from the capital Brussels, and its poorer municipality of Molenbeek. Police detained several people in the mainly Muslim neighbourhood, and brought a bomb disposal van to the area. REUTERS/Yves Herman ORG XMIT: YH01
Feira no bairro Molenbeek, em Bruxelas, onde suspeitos de ligação com ataques foram detidos

Quem passa por Molenbeek Saint-Jean se sente mais em um país do norte da África do que na Europa, tamanha a quantidade de passantes trajando longas túnicas até os pés e de mulheres usando o hijab (tipo de véu das muçulmanas) a circular pelas ruas do bairro, onde se veem lojas de produtos árabes e comida halal.

Os moradores desse bairro na zona oeste de Bruxelas são basicamente imigrantes, em sua maioria islâmicos.

Há famílias que passeiam pelas ruas e crianças nos parques, como no resto da cidade. Mas Molenbeek é também conhecido por abrigar religiosos e extremistas. O bairro já exportou vários jihadistas para a Síria.

Após os atentados de Paris, o ministro do Interior belga, Jan Jambon declarou que está pronto para "fazer uma limpeza na área".

Três dos autores dos atentados de sexta (13) em Paris moravam em Molenbeek –dois franceses e um belga. Desde o último final de semana, a polícia faz buscas no bairro. A presença de policiais armados e de cães farejadores é maciça na região.

"O islã não tem nada a ver com isso. O islã diz que, se você mata alguém, é como se matasse toda a humanidade. Não se pode suspeitar apenas de Molenbeek", desabafa um morador que vive no bairro há 35 anos.

Os jovens da região têm medo da estigmatização. Um deles, que preferiu guardar o anonimato, diz que, "para muitos, Molenbeek é considerada a área perigosa de Bruxelas, bastião do islamismo, dominada pelo radicalismo". "Mas que retórica é essa? A maioria dos moradores daqui é tranquila."

O músico francês Philippe Le Guével, parisiense que mora há 20 anos em Bruxelas –mas não em Molenbeek–, dá sua visão sobre o bairro. "Em Paris existem guetos. Os pobres moram em bairros distantes das áreas nobres da cidade. Em Bruxelas, porém, a diversidade social se acotovela."

Segundo Le Guével, além de receio, o bairro inspira certo fascínio sobre os belgas, justamente por ser diferente do resto da cidade.

FATURA

Para lutar contra o radicalismo e jihadismo em solo belga, o governo belga acaba de aprovar um plano no valor de 1 milhão de euros.

O primeiro-ministro da Bélgica, Charles Michel, declarou que "agora é preciso pagar a fatura do que não foi feito no passado".

A Bélgica é o país europeu que produz o maior número de combatentes islamitas em proporção à sua população.

Nessa nação de 11 milhões de habitantes, já foram identificados 494 jihadistas. De acordo com autoridades belgas, 272 estão na Síria e no Iraque; presume-se que 75 estejam mortos, 134 tenham voltado para a Europa e 13 a caminho do continente.

Apesar do reforço das leis antiterroristas no país e do desmantelamento das redes de recrutamento e células terroristas, a Bélgica permanece um reduto relativamente seguro para os jihadistas.

Molenbeek foi endereço temporário de Mehdi Nemmouche, atirador que matou quatro pessoas no Museu Judaico de Bruxelas, em maio de 2014, e de Ayoub El-Khazzani, autor do ataque frustrado em um trem de alta velocidade entre Paris e Amsterdã, em agosto passado.

O tráfico de armas também é intenso no país.

Segundo a imprensa belga, foi de Bruxelas que saiu parte das armas usadas em Paris pelos irmãos Chérif e Said Kouachi, que mataram 12 pessoas no ataque ao jornal satírico "Charlie Hebdo", em 7 de janeiro, e por Amedy Coulibaly, que dois dias tomou um supermercado kosher da capital francesa, matando 4 pessoas.


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