Folha de S. Paulo


Passaporte achado com terrorista de Paris passou por rotas sem controles

Alkis Konstantinidis/Reuters
Refugiados sírios mostram bebês com a aproximação de seu barco à ilha grega de Lesbos
Refugiados sírios em bote se aproximam da ilha grega de Lesbos, entrada de milhares na UE

O proprietário do passaporte sírio encontrado ao lado do corpo de um homem-bomba, responsável por uma das explosões no Stade de France na última sexta-feira (13), recebeu autorização de passagem por países da UE (União Europeia) como Grécia, Sérvia e Croácia e chegou a pedir refúgio antes de seguir viagem para a Áustria, informaram autoridades sérvias.

O dono do documento teve entrada registrada na Grécia em 3 de outubro, segundo autoridades locais, pela ilha de Leros, no mar Egeu, porta de entrada de dezenas de milhares à União Europeia.

Da Grécia, o proprietário seguiu para a Sérvia, onde pediu asilo de 7 de outubro. O documento permitiu que ele, em trânsito para a Croácia, permanecesse no território por três dias. A polícia sérvia não divulgou o nome registrado no documento, identificando-o apenas como "A.A.".

O portador do documento cruzou a fronteira sérvia com a Croácia em 8 de outubro, segundo a porta-voz da polícia croata Helena Biocic. Ele não foi considerado suspeito e seguiu viagem até a Hungria e a Áustria.

O passaporte sírio foi registrado em outubro na Sérvia e na Croácia, dois dos países no corredor migratório que cruza os Bálcãs. Seu dono pôde seguir viagem por ter passado na única prova exigida: que o indivíduo não tenha um pedido internacional de prisão contra ele, de acordo com as polícias dos dois países.

Não está claro se o passaporte é falso ou não, ou se realmente pertencia ao terrorista. Mas o tráfico de pessoas usando documentação síria falsa aumentou na proporção em que milhares cruzavam as fronteiras da Europa, fugindo de guerra e pobreza para pedir o status de refugiado, de acordo a agência de fronteira europeia Frontex.

Muitos daqueles que entraram por países no chamado "corredor migratório dos Bálcãs" —Grécia, Macedônia, Sérvia e Croácia— são registrados pelas autoridades. Seus dados são conferidos com a Interpol, são feitas fotos de cada um e recolhidas suas impressões digitais.

Agora, muitos têm dito aos oficiais locais que perderam seus documentos de identidade, e podem dar nomes e outras informações falsas, como o país de origem.

Uma grande maioria dos imigrantes se declara síria, embora não tenham documentos para corroborar essa alegação, diz a polícia sérvia. Ser um refugiado sírio aumenta as chances de conseguir asilo na Alemanha, em relação aos migrantes por motivos econômicos que vêm do Irã, Paquistão ou Afeganistão.

"Ninguém tem certeza de onde eles vêm, suas verdadeiras identidades ou se seus documentos são autênticos", afirma o ministro do Trabalho sérvio, Aleksandar Vulin. "Os suspeitos pelo ataque a Paris não foram registrados em lugar nenhum como terroristas, então a Sérvia não teria como saber que representavam perigo".

A porta-voz da Frontex Ewa Moncure disse à Associated Press que "em um grupo de 500 mil pessoas, você encontrará algumas com documentos falsos".

"Sempre existe uma chance de encontrar passaportes sírios falsos ou documentos de identidade feitos na fronteira com a Grécia", afirmou Moncure.

O passaporte foi encontrado após as explosões no Stade de France, em Paris, na sexta-feira, próximo a um dos terroristas que perpetrou o ataque. No total, mais de 120 pessoas morreram durante o atentado à capital francesa, o pior em décadas no país.

Autoridades afirmam que três grupos de terroristas estavam envolvidos na ofensiva terrorista e que pelo menos um deles estaria foragido, de acordo com oficiais de segurança franceses.


Endereço da página:

Links no texto: