Folha de S. Paulo


Massacre em Paris faz Europa reforçar sua segurança interna

Entendido como ameaça à Europa, e não apenas à França, o massacre de Paris motivou uma série de medidas de segurança em todo o continente durante o sábado.

Se confirmada a linha que une o atentado à França com a queda do avião russo no deserto do Sinai, há duas semanas, terão sido dois grandes ataques a alvos europeus em um curto período.

Onde foram os ataques

O governo belga deteve diversas pessoas em Bruxelas que poderiam estar ligadas a um carro preto visto em Paris e supostamente utilizado no atentado. O veículo, alugado na Bélgica, estava próximo à sala de concertos Bataclan.

A Polônia, por sua vez, anunciou que não irá aceitar mais refugiados em seu território até que receba garantias —não especificadas, por enquanto— de segurança.

O país havia concordado com o programa europeu para realocar refugiados ao redor do bloco econômico. A medida é contestada pelo governo conservador que tomará posse na segunda-feira (16).

No Reino Unido, a polícia afirmou estar empenhada em impedir ataques ao solo britânico. O país mantém em um nível anterior ao máximo seu alerta contra ataques terroristas. Lá, em 2005, atentados ao transporte público deixaram 52 pessoas mortas.

Forças especiais foram posicionadas para monitorar locais públicos como estações de metrô e shoppings.

E a Alemanha anunciou que é possível haver conexão entre um homem detido neste mês no país e os ataques a Paris. O suspeito foi preso com um carro cheio de explosivos.

Para o pesquisador francês Moussa Bourekba, do think tank espanhol Cidob, o ataque a Paris indica que a Europa "importa" conflitos do Oriente Médio onde está envolvida. "Estamos trazendo a guerra, o modus operandi."

"A regra, agora, é que não existe um 'risco zero'. Não podemos mais agir no Oriente Médio sem esperar uma resposta. Tudo está relacionado", afirma à Folha.

CALIFADO ESPANHOL

Na Espanha, as notícias do massacre de Paris foram recebidas com um temor particular. O país acompanhou o desenrolar da crise enquanto tuitava sobre os califados de al-Andalus —termo dado à parte da península Ibérica sob presença árabe. O nome é hoje usado pelo Estado Islâmico ao ameaçar o país.

O ataque contra Paris tem sido entendido, com as informações até agora disponíveis, como uma represália às ações francesas no Oriente Médio. O país bombardeia alvos na Síria, por exemplo.

Não será um argumento estranho à Espanha. "Aqui, os atentados de 2004 foram relacionados ao papel de protagonismo que tivemos na guerra, como um castigo", diz à Folha Ignacio Álvarez-Ossorio, professor da Universidade de Alicante.

Em 11 de março de 2004, explosões contra trens espanhóis mataram 191 pessoas. Em Madri, o custo político foi alto. Nos dias seguintes, nas eleições, a direita —então no governo— foi punida nas urnas. José Luis Rodríguez Zapatero, de esquerda, venceu.

O fantasma da década passada é utilizado, no país, como argumento contrário às intervenções externas.


Endereço da página:

Links no texto: