Folha de S. Paulo


Cristina Kirchner compara opositor a presidente que renunciou em 2001

A presidente Cristina Kirchner subiu o tom nas críticas ao candidato da oposição à Presidência da Argentina, Mauricio Macri, e a seus aliados em comício nesta sexta (6).

Após o resultado do primeiro turno, quando Macri ficou atrás do candidato da situação, Daniel Scioli, por apenas três pontos de diferença, uma vitória da oposição deixou de ser tratada como improvável para ser possível.

Juan Vargas/AFP
Cristina Kirchner cumprimenta militantes ao lado do candidato governista Daniel Scioli em Buenos Aires
Cristina Kirchner cumprimenta militantes ao lado do candidato governista Daniel Scioli em Buenos Aires

Este novo cenário fez elevar as críticas de peronistas, aliados de Cristina e de Scioli, contra Macri. Nesta sexta (6), Cristina lançou um ataque que, na Argentina, é equivalente a um golpe abaixo da linha da cintura.

Ela comparou um eventual governo de Macri com o da aliança de Fernando de la Rúa, que chegou ao poder em 1999 e renunciou em 2001, ficando com a responsabilidade de ter levado o país à maior crise econômica e política de sua história.

A coligação liderada por Macri tem integrantes da União Cívica Radical, partido de De la Rúa, o que é explorado pelos peronistas neste momento de acirramento da campanha.

Em seu discurso, Cristina falou em outra semelhança. Macri, tal qual De la Rúa, governa a capital Buenos Aires.

"Estou preocupada porque a cidade de Buenos Aires teve três chefes de governo e um deles foi presidente em 1999. Em 2001, ele fugiu de helicóptero deixando mortos na Praça de Maio. Me preocupo que, em 2015, alguém que tem essa mesma visão e modelo de país possa chegar à Casa Rosada", disse a presidente.

"Depois saem todos histéricos gritando "Que se vayan todos!" [em português, que saiam todos, grito das ruas contra a classe política na crise de 2001]. Mas aí será tarde", discursou Cristina, diante uma multidão que estava do lado de fora do novo polo tecnológico inaugurado pelo Estado na capital.

AS ELITES

Cristina também fez referência à origem abastada de Macri e de seus aliados em seu discurso.

Em uma atitude inusual, exibiu um vídeo em que mostra o assessor econômico de Macri, Alfonso Prat-Gay, dizendo que a Argentina, a cada dez anos, é governada por um "caudilho que vem do Sul ou do Norte, de currículo desconhecido", originário de províncias despovoadas.

No vídeo, o economista dizia temer que outro caudilho provinciano poderia aparecer no horizonte argentino em 2020.

A presidente interpretou que Prat-Gay falava do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), que veio da província de Santa Cruz, no extremo sul argentino. Mas ela não apresentou o contexto da fala, tampouco lembrou que o economista foi presidente do Banco Central de Kirchner, entre 2002 e 2004.

"Essa é a ideia de uma pequena minoria, que se vê como uma elite ilustrada contra a barbárie do interior", criticou Cristina. "Essa não é uma campanha suja, é uma campanha da verdade", disse a presidente.

CAMPANHA DO ESGOTO

A reação da oposição tem sido afirmar que os governistas estão fazendo "campanha suja", recorrendo à ameaça de que os mais pobres poderão perder benefícios sociais caso Macri seja eleito, versão rejeitada pelo opositor.

"Campanha suja, melhor dizendo, campanha do esgoto é a que sofreu esta presidenta e sofre todos os dias", rebateu Cristina.

Segundo a presidente, ela recebe críticas por ser mulher e fez referência a investigações que afirmam que ela é bipolar. "Einstein era bipolar. Lamento, eu poderia ser Einstein mas não sou bipolar".

"Ninguém falava nada dessas campanhas sujas, da hostilidade contra mim e contra minha família. Capas catastróficas acusaram Máximo de ter contas no exterior. Mentiras, absolutamente mentiras, ofensas e desqualificações. Não era nem campanha suja, era campanha do esgoto", bradou a presidente.

"Não estamos fazendo campanha suja, estamos fazendo a campanha mais limpa e transparente para que as pessoas saibam, na hora de votar, o que querem para o seu país. Mostramos o que fizemos e recordamos o que fizeram e disseram".

No palco, a duas cadeiras de distância de Cristina, o candidato Daniel Scioli acompanhou o discurso da presidente com sinais de aprovação.

Ao final, Cristina ensaiou passinhos de dança e, com movimentos nas mãos, interpretava a letra do jingle que embalou a campanha do filho, Máximo Kirchner, em Santa Cruz.

O refrão diz assim: "Vamos sair, o que vai fazer, não fique em casa, se não te agarra a tela [da TV]", em referência à imprensa, alvo de constantes críticas da presidente.


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